A atitude do homem diante da morte na sociedade Ocidental tem sido objeto de inúmeras investigações no campo das ciências humanas e psicológicas. Um notável estudo foi publicado em 1975, pelo historiador francês Philippe Ariès. Em seu livro “A história da morte no Ocidente”, Ariès buscou sistematizar o percurso do relacionamento do homem com a morte da Idade Média até o período em que escreveu sua obra.
Phillippe Ariès nasceu em 24 de julho de 1914 e realizou seus estudos de História na Sorbonne. Em seus estudos sobre a Morte utilizou diversas fontes como: textos literários, as narrativas de La Fontaine, a Odisséia de Homero, e muitos documentos históricos, relatos de concílios, a bíblia, iconografias, registros de cemitérios....
Ariès apresenta uma diversidade de comportamentos da sociedade cristã Ocidental no trato com a morte. Suas investigações indicam que: “Como muitos outros fatos de mentalidade que se situam em um longo período, a atitude diante da morte pode parecer quase imóvel através de períodos muito longos de tempo. Entretanto, em certos momentos, intervém mudanças frequentemente lentas”.
Procuraremos, a seguir, e nas próximas postagens, expor sintéticamente algumas fases estudadas por Ariès da atitude do homem com a morte na sociedade Ocidental.
A Morte Domada
Essa fase refere-se a certa “familiaridade” do homem com a morte, sobretudo, na baixa Idade Média. A morte era esperada no leito, em uma cerimônia pública e organizada pelo próprio moribundo. Seu quarto se transformava, então, em um lugar público, onde se entrava livremente. O moribundo, assim, deveria cumprir os últimos atos do cerimonial tradicional: o primeiro ato era o lamento da vida, uma evocação triste referente aos seres e as coisas amadas... Após vinha o perdão dos companheiros, dos assistentes, sempre numerosos. Finalmente, chegava-se o momento de esquecer o mundo e pensar em Deus. Nisso, recorria a prece que compunha-se, basicamente, de duas partes: o “arrependimento”, pelos erros cometidos, e o rogar a Deus pelo paraíso.
O “identificar os sinais natural da morte” tornava-se relevante para o cerimonial e o preparo do sujeito. Por isso a morte súbita era muito temida. Nela, além de não haver tempo para o arrependimento, corria-se o risco de morrer só.
Em seu quarto, o moribundo, ficava rodeado de parentes, amigos, vizinhos e, inclusive, de crianças que vinham para a despedida final. Nesse momento, o indivíduo pedia perdão a todos e deixava suas recomendações aos presentes. Devido ao quarto do moribundo transformar-se em um lugar público, os médicos no fim do século XVIII – que já haviam descoberto as primeiras regras de higiene – temiam pela disseminação de doenças contagiosas.
A pesar de sua familiaridade com a morte, os medievais temiam que os “mortos voltassem” para perturbar os “vivos”. Na verdade, já na Roma Antiga a Lei das Doze Tábuas proibia o enterro nas cidades. Os cemitérios ficavam situados à beira das estradas como a Via Appia.
Segundo Ariès, não se tinha a ideia moderna de que o corpo do morto deveria ser enterrado em uma fossa só para ele, em que seria o “proprietário perpétuo”. Na verdade, existiam fossas comuns. As chamadas “fossas dos pobres” eram largas e os corpos ficavam amontoados, sem caixão. Os "defuntos mais ricos", no entanto, eram enterrados no interior de igrejas, a fim de tomarem o mesmo destino, vejam só, dos “santos”.
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