sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DISTONIAS MENTAIS E OBSESSIVAS NA PERSPECTIVA DA TEORIA ESPÍRITA – Final


Os aspectos intrínsecos

A grande problemática no rol das distonias são as causas intrínsecas ou internas, ou seja, aquelas produzidas pelo próprio ser espiritual, na condição de herdeiro de suas atitudes no curso das reencarnações. Em sua obra  “Ação e Reação”, André Luiz cita um caso de psicose provocada pela ideia de “culpa”:

“(...)vergastado pelos remorsos, Ernesto entrou em comunhão com impassíveis agentes das sombras, que o fizeram presa de inomináveis torturas, por se recusar a segui-los nas práticas infernais. Conservando no imo da alma a lembrança da vítima, através da percussão mental do arrependimento sobre os centros perispiríticos enlouqueceu de dor, vagueando por vários lustros, em tenebrosas paisagens, até que, recolhido à nossa instituição, foi convenientemente tratado para o reajuste preciso. Não obstante, recuperado, porém, as reminiscências do crime absorviam-lhe o espírito de tal sorte que, para o retorno à marcha evolutiva normal, implorou o regresso à carne, a fim de experimentar a mesma vergonha, a mesma penúria, e as mesmas provas por ele infligidas ao irmão indefeso, pacificando, desse modo, a consciência intranqüila. (...) tornou ao campo físico, carreando na própria alma os desequilíbrios que assimilou além do sepulcro, com os quais renasceu alienado mental (...).”  (pág. 237)

As estruturas complexas do psiquismo guardam as raízes das experiências felizes ou desditosas criando, nos casos negativos, os quadros de psicopatologias tormentosas. Assim a mente enferma projeta seus desequilíbrios para o campo perispiritual, lesando seus centros vitais com repercussões com maior ou menor intensidade no corpo físico em futuras existências. Ainda André Luiz [5] assevera: “De um modo geral, porém, a etiologia das moléstias perduráveis, que afligem o corpo físico e o dilaceram, guardam no corpo espiritual as suas causas profundas. (...) Os nódulos de forças mentais desequilibradas” (idem, pág. 213).   Acrescenta: “Essas enquistações de energia profunda, no imo da alma, expressando as chamadas dividas cármicas (...) são perfeitamente transferíveis de uma existência para outra” (idem, pág. 214).
Observando os modelos explicativos do psiquismo, consideramos o seguinte esquema [6]:

O esquema acima é uma adaptação do modelo proposto pelo Dr. Jorge Andréa. Por ele, percebe-se que a região consciente é extremamente diminuta em relação a zona inconsciente.  Na região do inconsciente passado teríamos o arquivo das multimilenárias experiências pretéritas com os seus núcleos em potenciação, unidades de registro, aos milhares, que comporia o nosso próprio patrimônio de aquisições experênciais.   Nessa região teríamos o registro profundo das distonias como unidades energéticas com angulações afastadas do bem e do amor, exigindo, portanto, reequilibro ou reajustamento.  A loucura de hoje representaria  a erupção de uma (ou várias) distonia comportamental profunda (arquivada como unidade energética em desequilíbrio) e que a consciência, em dado momento, acusou. A alienação mental nesse exemplo teria fatores eminentemente intrínsecos, endógenos e, portanto, anímicos.
Da mesma forma, essas estruturas em desajustes atrairiam, por sintonia,  suas vítimas ou afins num processo de interação energética  cuja permuta ou constrição negativa (obsessão) ensejaria  o próprio reequilibro, ou seja, toda ação em desarmonia com a lei do amor promove uma reação (em curto, médio ou longo prazo) que visa restaurar o equilíbrio do sistema. Nesse caso, o “sistema” representaria a própria estrutura energética do espírito ou psiquismo.  Já os núcleos que possuem aquisições no bem e nos ângulos positivos da vida, seriam a fonte de equilíbrio emocional e felicidade.
O esquema acima, procura representar os conflitos atuais na área do psiquismo em face as estrutura interiores construídas, ao longo das reencarnações e vivências no mundo espiritual de variados matizes evolutivos. O “choque” dessas estruturas internas poderá gerar conflitos de menor ou maior intensidade, evoluindo – em certos casos – para psicopatologias de natureza mais complexa. Esse é somente um exemplo, em termos de reflexão, que poderá ser ampliado para outras tantas situações conflitantes.
Considera o espírito Joanna de Ângelis [7] que “Conflitos autopunitivos da consciência de culpa não superados apresentam-se de forma patológica, contribuindo para a ausência de auto-estima e compulsão auto-exterminadora. Nem sempre porém assumem a tendência para o suicídio direto, manifestando-se, entretanto, de maneira mascarada, como desinteresse pela existência, ausência de objetivos para lutar, atitudes pessimistas...” (pág. 135)  Assevera ainda a nobre mentora: “Na raiz de toda doença há sempre componentes psíquicos ou espirituais, que são heranças decorrentes da Lei de causa e efeito, procedentes de vidas transatas, que imprimiram nos genes os fatores propiciadores para a instalação dos distúrbios na área da saúde.” (idem)
Nesse sentido, mesmo os distúrbios fisiológicos ou cerebrais, possuem suas raízes nas estruturas complexas do psiquismo que negligenciou as oportunidades de promover o bem e procriar o belo. Nas palavras de Jorge Andréa: “È de fácil compreensão que a zona consciente se prepara sempre para recusar a carga interna que está fora de equilíbrio, mas não existe outro mecanismo de drenagem. A imposição no consciente se dará por formação de campos energéticos que se sucedem como se fossem ondas em expansão; não havendo possibilidade de desvios, as cargas de energias defeituosas são canalizadas para as telas físicas, cujas usinas celulares absorvem em totalidade as imposições. O corpo físico passa a ser o grande exaustor da alma...” [8]

A obsessão

O processo obsessivo insere-se no capítulo das distonias mentais de forma a agravar a complexidade dessa temática. No caso da obsessão temos a influência de um agente externo atuando com maior ou menor intensidade. Mas, de qualquer forma,  tal processo, em seus variados matizes, se viabilizará devido a uma relação de sintonia, aproximando campos energéticos que necessitam se reequilibrar.
Jorge Andréa assim se expressa: “Todos os processos obsessivos podem ser ativados e alimentados pelas ações desequilibrantes  de conduta e descontrole emocional-afetivo propiciadores de aflitivas interações, cujos mecanismos aceleram as condições de fixação mental. Poderemos mesmo dizer que, nas bases do processo em pauta, encontra-se vasto condicionamento hipnótico, pela existência de um mesmo clima psicodinâmico, onde o monoideísmo passa a ser a tônica constante, de modo a estabelecer um verdadeiro circuito fechado. Nessa posição incrementa-se o fenômeno ideoplástico nas fixações de imagens, a propiciar o aparecimento das alucinações de toda ordem, principalmente as visuais e as auditivas. Nessa fase serão atingidos, não só os componentes físicos do psiquismo, mas, também, as regiões energéticas que os envolvem representados pelos campos perispirituais (...).” (p.54) [9]
Evidentemente está o eminente psiquiatra, referindo-se a quadros mais complexos de obsessão, cuja raiz vincula-se ao passado da vitima. Entretanto, na existência atual, enclausurado em nova roupagem física, o indivíduo não se apercebe, conscientemente, de suas construções pretéritas. Muitas vezes, no entanto, os sentimentos injustificáveis de medo, pânico,  psicoses, insegurança terrível, entre outros,  são sentimentos promovidos, inconscientemente, pela consciência de culpa, agravada pela cobrança da vitima.
As unidades energéticas do psiquismo (núcleos em potenciais)  representam os arquivos vivos das experiências transatas a imprimir no presente a herança espiritual das multifárias reencarnações.  Por esses  “arquivos” somos facilmente identificados  pelos antigos desafetos e/ou vítimas, na vivências de erros contra as leis divinas. Somente com o reequilibro desses campos energéticos, através das experiências do Bem, é que poderemos, efetivamente, romper com as influências parasitárias, assumindo uma nova proposta diante da vida. 
O esquema a baixo, pretende, num esforço de reflexão, representar as interações energético-obsessiva. 
Finalmente

Tentamos evidenciar, nessas linhas, a complexidade desses processos de distonias mentais em face ao seu diagnóstico no Centro Espírita que, na verdade, não deve cumprir tal tarefa. Mas então qual a postura diante dos múltiplos casos que  chegam no Centro Espírita, de pessoas   portadoras de  obsessão? Será realmente obsessão? Ou será algum outro processo de natureza psíquica ou fisiológica?  Difícil saber com precisão. De qualquer forma, manda o bom senso que além das terapias oferecidas pela Doutrina Espírita (desobsessão, fluidoterapia,  palestras e estudo) possamos, sempre que se julgar necessário, orientar a pessoa (ou seus familiares) a buscar, paralelamente, auxílio psicológico e/ou médico especializado.
Dificilmente uma problemática possuirá somente um fator desencadeante. O homem é um espírito multimilenar, um verdadeiro universo em expansão de enorme complexidade.  Na essência,  toda distonia mental é de fundo espiritual, porque se origina nos recônditos mais profundos da realidade extrafísica. Portanto,  a Doutrina Espírita, em sua ampla abordagem do homem, ser imortal e pluriexistencial,  sempre terá muito a contribuir para a saúde mental do espírito, encarnado e desencarnado, através de sua profilática (esclarecimento) e terapêutica.

NOTAS

[5] Livro: Ação e Reação. Ed. Feb.
[6] Os modelos explicativos do psiquismo aqui apresentados são uma adaptação dos modelos apresentados pelo Dr. Jorge Andréa  e pelo Prof.  Hermínio C. Miranda constante no artigo intitulado: “Modelos de Inconsciente” de autoria de autoria da Dr.ª.  Maria Júlia Prieto Peres. In.  Boletim nº. 9 da Associação Médico-Espírita  de São Paulo.
[7] ÂNGELIS, Joanna de. Amor, Imbatível  Amor. Página: 135
[8] ANDRÉA, Jorge.  Boletim Médico-Espírita N.º .9 , Página. 58.
[9] IDEM. Página 54.

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