terça-feira, 12 de julho de 2011

REFLETINDO SOBRE O LIVRO DOS MÉDIUNS

Do Maravilhoso e do Sobrenatural

A partir dos estudos e pesquisas no campo da mediunidade, evidenciando a realidade do espírito, sua natureza e sua rota evolutiva, abole-se a categoria “sobrenatural”. Tudo é natural. Os fenômenos espíritas se explicam racionalmente. Kardec apresenta argumentos e contra-argumentos buscando situar o fenômeno mediúnico dentro de uma ordem natural. O Espiritismo, então, apresenta um modelo explicativo da vida e dos múltiplos fenômenos espirituais dentro de uma organicidade que liga todas as coisas. Em O Que é o Espiritismo, Cap. I, “O maravilhoso e o sobrenatural”, diz Kardec:

O Espiritismo tende, evidentemente, a fazer reviver as crenças fundadas no maravilhoso e no sobrenatural; ora, no século positivo em que vivemos, isto me parece difícil, porque é exigir que se acredite nas superstições e nos erros populares, já condenados pela razão.

A mentalidade humana, ao longo do tempo e da cultura, havia construído um imaginário infantil sobre o “desconhecido”. Kardec, no entanto, assevera, nesse capítulo, que: “A explicação dos fatos que o Espiritismo admite, de suas causas e consequências morais forma toda uma ciência e toda uma filosofia, que reclamam estudo sério, perseverante e aprofundado.”
Retirar o “véu” que encobria certos fenômenos, e inclusive a própria essência humana, dando-lhes explicação racional, com base numa rigorosa metodologia. O imperativo é compreender, o máximo possível, as leis que regem os fenômenos. Sob esse aspecto, percebemos a originalidade do trabalho desenvolvido por Allan Kardec, desvelando as leis naturais da vida.

 Do Método

Comecemos por definir a palavra “método”: do latim tardio: methodus, do grego: methodos, de meta: por através de; e hodos: caminho. Método significa, portanto, um conjunto de procedimentos racionais, baseados em regras, que visam atingir um objetivo determinado. De forma mais clara: é o caminho que utilizamos para atingir um propósito.
Em seus textos Discurso do Método e Regras para a Direção do Espírito, René Descartes      (1596-1650) já destacava: “O método é necessário para a procura da verdade”, isto é: “Para bem dirigir a própria razão e buscar a verdade nas ciências.” A adoção de um método evidencia o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, na verdade, é o que denominamos de “bom senso” ou “razão”. Allan Kardec foi herdeiro natural do pensamento racionalista dos séculos XVII e XVIII, e, em parte, do positivismo de sua época. É de Augusto Comte (1798-1857), o pai do Positivismo e contemporâneo de Kardec, a afirmativa: “Todos os bons espíritos, repetem, desde Bacon, que somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados.” [Grifos meus]
Ora, Kardec escreverá em A Gênese, capítulo 1, item 13 que:

(...) a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sobre os olhos e das instruções que lhe dão, instruções que ele estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele próprio as ilações e aplicações. [Grifos meus]

Mais importante que a própria “observação dos fatos” é a teoria explicativa que daí surge e seus efeitos éticos e morais. Nesse sentido, Kardec manifesta sua preocupação com a importância do conhecimento e do ensino espírita. Destacamos duas afirmações do Codificador, nesse capítulo, que os espíritas jamais poderão esquecer:

1º. Dissemos que o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia. Quem, pois, seriamente queira conhecê-lo deve, como primeira condição, dispor-se a um estudo sério e persuadir-se de que ele não pode, como nenhuma outra ciência, ser aprendido a brincar. (LM. Cap. 3, item 18)

2º. (...) tais os motivos que nos forçam a não admitir, em nossas sessões experimentais, senão quem possua suficientes noções preparatórias, para compreender o que ali se faz. (LM. Cap. 3, item 34)


Ainda hoje encontramos no Movimento Espírita, certos dirigentes que negligenciam essas instruções, sobretudo, no que tange ao acesso de pessoas estranhas às reuniões mediúnicas. Graves equívocos cometem, pois, nessa área, como em outras, a superficialidade é sinal de desconhecimento da própria complexidade que se reveste o processo mediúnico em seus múltiplos matizes. Ninguém se ariscaria a entrar num laboratório que produz vacinas para determinados vírus, sem o devido preparo de conhecimento e de roupagem própria, pois é um ambiente que exige cuidados redobrados.
Uma reunião mediúnica, guardadas as proporções, é uma espécie de laboratório de elementos fluídicos, emocionais e espirituais onde múltiplas reações ocorrem. Não se trata de tornar esse, um ambiente sacralizado, mas de preparar o grupo de trabalho para as possíveis situações que ali possam ocorrer. Sendo uma reunião de assistência e esclarecimento aos desencarnados, muitos desses apresentam-se com sentimentos enrijecidos em seus próprios dramas e complexos, muitas vezes nutridos por longo tempo. Sentimentos de vingança e ódio, de desespero e amargura, misturam-se, exigindo do grupo de trabalho o acolhimento fraterno, o equilíbrio pessoal, o conhecimento doutrinário para conduzir, de modo ingente e profícuo, todo esse processo.

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