sábado, 12 de fevereiro de 2011

A derrota do "Faraó" pela geração "online"

Para que possamos compreender o que se passa no Egito atual, é importante retornarmos ao início dos anos 80. No dia 6 de outubro de 1981, o então presidente do Egito Anuar Sadat é assassinado em um desfile militar no Cairo. A ordem para sua morte teria partido de uma fatwa, uma espécie de “determinação legal” emitida pelo fundamentalismo islâmico de Omar Abdel-Rahaman, que se opunha às negociações entre o Egito e Israel iniciadas por Sadat com o apoio dos Estados Unidos.
Foi com a morte de Sadat que novas eleições foram realizadas no Egito e, o então vice-presidente de Sadat, o general Hosni Mubarak, torna-se vitorioso e assume o controle do país. Mubarak recebe o apoio americano, que investe milhares de dólares no exército egípcio, para que o país de natureza islâmica, continuasse um aliado político do Ocidente (entenda-se: “dos americanos”), entre outras razões, por sua posição geopolítica e geográfica estratégica mantendo acordo de paz com Israel, também um aliado americano no mundo árabe.
Ocorre que Mubarak impôs ao país um regime autocrático, sustentado pelo exército. A sua permanência no poder, através das eleições em 1987, 1993, 1999 e 2005 foi questionada por parte da comunidade internacional (menos os Estados Unidos é claro) pela falta de transparência do processo. Além disso, seu governo era marcado pela falta de democracia, corrupção e brutalidade das forças policiais.
Como é comum nos regimes ditatoriais, Mubarak mantinha censura sobre os meios de comunicação, além de mandar prender e torturar todos que representassem uma “ameaça à ordem pública”.
Com o agravamento dos problemas econômicos, a população egípcia, exausta de tal regime, empreendeu uma verdadeira revolução contra o governo, exigindo sua saída e oferecendo ao mundo um notável exemplo de consciência política pelos direitos democráticos.
Essa revolução nasceu no seio da população mais jovem e se multiplicou graças ao uso das redes sociais que conseguiam furar os bloqueios da ditadura. É interessante observarmos, também, que a revolução no Egito ocorreu sem a interferência de outros países, como é comum nesses casos.
É imperativo pensarmos, cada vez mais, no papel da internet e das redes sociais, não somente como espaços democráticos, mas também como instrumentos de mobilização social. Podemos, jocosamente, dizer que a antiga ditadura do governo egípcio foi derrotada pela nova geração “online”.
O povo egípcio nos ofereceu exemplos de uma nova revolução e aponta para o futuro, jamais pensado por Karl Marx, das modernas formas de mobilização da sociedade na defesa de seus interesses e fixando na contemporaneidade suas marcas na história.  
Hosni Mubarak, talvez um antigo faraó ou nobre imponente do passado reencarnado atualmente, conheceu como poucos governantes arbitrários, o peso do poder determinado da população egípcia, certamente, num resgate notável de sua liberdade e de sua dignidade.
A grande questão é como o governo provisório procederá na transição para um novo governo democrático, e como esse novo governo se comportará no contexto da geopolítica internacional, sobretudo, na relação Ocidente/Oriente.

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