domingo, 30 de outubro de 2011

Árvores frondosas ou plantas rasteiras?

A emoção de sofrimento, por ocasião de uma perda, representa um estado natural da condição humana. Convém lembrar, entretanto, que tal estado emocional terá uma permanência breve ou demasiada conforme o significado que atribuímos  ao sentido da própria vida, e ao nível de afeto construído com a pessoa que morre. Naturalmente, quem nutre uma visão religiosa, por certo, encontrará mais reforço íntimo para compreender que a vida é feita de experiências e que, delas,  fazem parte as perdas e os vínculos. Com isso não queremos considerar que a religião removerá os sofrimentos das perdas, mas que contribuirá para atenuar essa dor, rompendo-se com o estado mental desolador.
Refletir, de forma saudável, sobre a possibilidade das perdas e da transitoriedade da existência física, já é uma medida interessante de adequação do nosso mundo emocional às vicissitudes e agruras do cotidiano. Uma doença grave, um acidente fatal ou qualquer outro fato perturbador, muitas vezes geram tal gama de sofrimentos que o indivíduo, fragilizado interiormente, mergulha num vazio existencial.
Foi muito comum no século XIX o “luto histérico”, onde os parentes resistiam em aceitar a morte do outro, entregando-se à rebeldia e a revolta contra Deus em verdadeiras manifestações de histeria coletiva. É o sofrimento que gera sofrimento. Para evitar-se um sofrimento maior, naqueles momentos em que o “mundo parece desabar sobre o sujeito”, o papel da prece, certamente, terá uma função fundamental:  fortalecer a vida interior, que é o espaço da coragem, da confiança, do equilíbrio... Entretanto, não podemos esquecer que há coisas que somente o tempo poderá realizar. O apoio de outras pessoas será sempre importante mas devemos compreendê-lo, na maioria das vezes, como algo temporário. Perceber que alguém se preocupa com nosso sofrimento é alentador, mas os estímulos reais deverão eclodir de nosso íntimo. 
Em uma interessante crônica intitulada “As perdas & os ganhos”, a escritora Lya Luft, escreve:

“O apoio dos outros é relativo e passageiro. A força decisiva terá de vir do nosso interior, onde vai sendo depositada a bagagem de nossa vida. Lidar com a perda vai depender do que encontraremos ali: se nesse lugar crescem árvores sólidas, teremos onde nos agarrar. Se houver apenas plantinhas rasteiras, estaremos mal. Por isso, aliás, a tragédia faz emergir  forças insuspeitadas em algumas pessoas, e para outras aparece como uma injustiça pessoal ou uma traição da vida.”

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