terça-feira, 5 de julho de 2011

Há Espíritos? Apontamentos de Kardec

A realidade do espírito está consubstanciada na ideia de um princípio inteligente e sobrevivente à morte biológica. Essa noção acompanha o homem desde o limiar de sua caminhada evolutiva na Terra. Vejamos apenas um exemplo: A civilização do Nilo atribuía à morte uma dimensão metafísica. Em O Livro dos Mortos, provavelmente com origem na V Dinastia (2.345 a.C.) os egípcios buscavam indicações sobre a passagem do morto pelas diversas etapas em sua jornada pós-morte.  Os rituais mortuários, no antigo Egito, caracterizavam a morte como uma continuação da vida. Daí a necessidade da preservação do corpo (privilégio, normalmente, da nobreza) para que o espírito a ele retornasse após sua jornada pelo mundo dos mortos. Atribuiu-se tal importância à morte que quarenta e cinco séculos antes de Cristo, na mitologia egípcia, Anúbis ou  Anpu, era o deus que presidia os embalsamamentos e os sepultamentos. Acreditava-se que o corpo devia ser conservado para permitir a sobrevivência do duplo (Ka), uma espécie de matéria vaporosa e colorida que adotava a forma do corpo e do espírito. O espírito ou alma (Ba), por sua vez, era representado por uma chama ou um pássaro que voaria na direção da luz ou acompanharia o seu sepultamento.
Considerando, portanto, o amplo universo do pensamento e da cultura, Allan Kardec assim se expressa:

Seja qual for a ideia que dos Espíritos se faça, a crença neles necessariamente se funda na existência de um princípio fora da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta deste princípio. Tomamos consequentemente por ponto de partida, a existência, a sobrevivência e a individualidade da alma, (...) que tem no Espiritualismo a sua demonstração teórica e dogmática e, no Espiritismo, a demonstração positiva. [Grifos meus]

Observamos na afirmativa acima, uma verdadeira revolução gnoseológica, onde o tema do espírito deixa de ser uma abstração metafísica, uma crença religiosa, para se tornar uma “demonstração positiva”, isto é, um fato materialmente demonstrável e, por isso mesmo, situado na categoria dos objetos de investigação, observação, análise, concordância universal, tudo isso apoiado no princípio científico de que não há efeito sem causa.
Admitindo, assim, a permanência da individualidade do sujeito, e de sua consciência após a morte corporal, Kardec postula que a natureza do espírito deve ser diferente, com propriedades distintas de seu corpo físico. Ultrapassada essa primeira questão, o problema, a partir daí, está em discutir para onde irá então o espírito após a morte do corpo. Kardec colheu informações sobre a vida pós-morte seja nas reuniões mediúnicas das quais participava diretamente, ou das cartas e mensagens que outros grupos recebiam e lhe enviavam para análise.
Tudo lhe indicava uma continuidade da vida, em uma geografia muito semelhante a da Terra, tendo por base uma dinâmica evolutiva. Por sua vez, esse processo evolutivo está subordinado ao estado moral da alma, decorrente de suas construções mentais, emocionais e volitivas ao longo do tempo. 

Referência

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 51ª. edição. Brasília-DF: Feb, 1985.

Pesquise no Blog

Loading

TEXTOS/ARTIGOS ANTERIORES