sábado, 25 de fevereiro de 2012

NOVO HORIZONTE CULTURAL

Jerri  Almeida

No estudo da história se diz que as mudanças mentais e, portanto, culturais ocorrem em tempos históricos de longa duração. O contexto histórico-espiritual da Terra – permeado de insidiosos dilemas e conflitos, sofrimentos físicos e morais – exige renovação. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pelo universo das questões que abrange, o espiritismo está apto a instrumentalizar o processo de melhoramento humano, nesses dias tormentosos de desvarios dos sentimentos, de aturdimentos morais e de consciências que irrompem na multidão.[1] O apelo moralizador é fruto de uma convicção estruturada numa “amplitude de vistas” que transcende o reducionismo biológico, desvelando novos horizontes para o espírito humano. Urge repensarmos nossa forma de viver, por vezes, absorvida em pensamentos egoístas que nos distanciam da solidariedade e da fraternidade.
Necessitamos aclimatar nossos pensamentos e corações aos valores imperecíveis da alma como fundamento de uma nova cultura da solidez, dos princípios verdadeiramente nobres, geradores de bem estar emocional, saúde e espiritualidade.  Vivemos um magno período de “eleição dos valores”. As condutas mentais viciosas exigem imperiosa revisão por parte de todos nós, que transitamos no planeta em transição. Tudo isso exige determinação, vigilância e perseverança pelos caminhos do equilíbrio constante, sem abandonarmos o serviço de autodoação na seara do bem incondicional.
A superficialidade de uma vida voltada para alimentar o estômago e o sexo, onde os sujeitos consomem suas energias físicas na busca de um prazer fugaz, determina estados comuns em nossa sociedade, de vazio interior e melancolia. Estamos chegando a um limite desse quadro de inobservância às Leis da Vida. A destruição da natureza, o desconcerto social, a agressividade ignóbil, o desrespeito com a vida, a cultura do superficial, o hiperconsumismo, a sexologia desvairada, irrompem num complexo estado de revisão civilizacional.
A mensagem renovadora do Cristo, ignorada ou deturpada, continua viva em seu chamamento ao Novo Homem. Essa mensagem é a base para constituirmos uma nova relação com a vida e com o semelhante. Revivida pelo espiritismo na atualidade, a Boa Nova é roteiro sólido para um ser humano mais sociável e fraterno, que exercita o desapego das coisas, pois compreende a transitoriedade delas, aceitando que sua passagem pelo corpo é oportunidade inalienável de crescimento e aprendizado pessoal.
Conforme informações recentes do espírito Manoel Philomeno de Miranda[2] a Terra, conforme planejamento da espiritualidade superior sob a égide do Cristo, vive um processo mais intenso de renovação espiritual e que, naturalmente, se prolongará por um bom tempo até que os propósitos maiores sejam atingidos. Intensificam-se a reencarnação em massa de espíritos de alta estirpe moral e intelectual, portadores de sólidos valores que, voluntariamente, candidataram-se à tarefa nobilitante de colaborar com a renovação mental e cultural da sociedade terrena.
Todavia, cada um de nós deve ser um protagonista dedicado, nesse cenário de renovação. O momento é de escolhas! Não devemos, sob nenhum aspecto, ficar refém dessa cultura do superficial que toma conta das multidões. Essa consciência de mudança tem feito parte, inclusive, do pensamento sociológico recente:

Mas [você] também deve acreditar que esse mundo poderia ser transformado num outro, mais pacífico, hospitaleiro e amigável aos homens – e também acreditar que se você tentar, como deve tentar, pode se tornar parte da força capaz de e destinada a fazer essa transformação.[3]

Essa transformação cultural e mental, ínsita no Evangelho do Cristo, é o imperativo da Era Nova que se instala na Terra. No livro Transição Planetária, Manoel Philomeno de Miranda afirma: “Ainda é um grande desafio a ação do bem no mundo tumultuado da atualidade. Nem por isso, devem desanimar aqueles que se dedicam à prática da caridade a e ao exercício do benfazer, porquanto, se existem os carrascos do além, sempre dispostos ao crime hediondo, também pululam os anjos tutelares, vigilantes e rápidos, na execução da legítima fraternidade.”[4] O mentor espiritual Dr. Artêmio Guimarães em mensagem final, na referida obra, esclareceu: “Os trabalhadores da grande transformação encontram-se, há algum tempo, operando diligentes nos mais variados segmentos sociais e culturais da Terra.”[5]  O “reino da razão” não resolveu os grandes dilemas existenciais, psicológicos e emocionais da criatura humana. O hedonismo corroeu-nos a alma e nos aprisionou nas grades da ilusão.
Nesse quadro de transformações, o Movimento Espírita é chamado a dar o testemunho impostergável da fraternidade autêntica, da caridade produtiva, da solidariedade que contagia, do perdão que liberta, do trabalho que enriquece o coração, do amor que enternece a alma e a ilumina. A hora é chegada! O servidor do Bem, amadurecido pelas experiências e esclarecido pelo Consolador, encontrará inestimáveis oportunidades, nesses dias de lutas, para se manter vigilante aos compromissos assumidos com o Cristo. Os “adeptos sinceros” referidos por Allan Kardec são todos aqueles que sacrificam o seu temperamento orgulhoso, a inflação do ego, para se manterem fiéis aos ensinamentos da Veneranda Doutrina Espírita, consubstanciados na diretriz kardequiana. Nas Instituições Espíritas, onde esses preceitos são observados, onde os servidores do Cristo são movidos pelo ideal renovador, empenhando esforços para serem a cada dia um pouco melhor do que foram no dia anterior, certamente os mentores espirituais encontram fortes aliados para o imperativo trabalho de transformação da sociedade terrestre.
Uma cultura sólida refletirá num reordenamento substancial da hierarquia dos valores, elegendo o Amor (Ágape) como a mais expressiva forma de conduta para a plenitude possível do ser humano, em seus diversos campos de ação. Uma programação televisiva de alto valor cultural repercutirá na formação intelecto-moral dos indivíduos. Da mesma forma, em todos os setores da vida humana onde os valores sólidos do Amor e da Imortalidade da alma se instalarem, o perfume da espiritualidade dignificará as criaturas. Uma nova sociedade, portanto, está emergindo com base na inexorável Lei do Progresso.
Diante dos labores que precisamos percorrer para a edificação de um novo horizonte cultural, é importante agregarmos o célebre pensamento de Aristóteles, em sua Poética, quando afirma que “a arte é o espaço da possibilidade.” A rigor, em todo processo de transformação é necessário identificarmos nossos limites e possibilidades. Os limites nos permitem perceber que não temos o poder da onipotência. Há coisas que dependem diretamente de nós e aquelas sobre as quais não possuímos controle. Por exemplo, não temos o poder de mudar, sobretudo conforme o nosso desejo, outra pessoa. Pois cada indivíduo, na sua singularidade, é livre para adotar suas próprias rotas de vida, responsabilizando-se por suas opções.  Todavia, temos um espaço de possibilidades no qual poderemos nos movimentar. Na condição de seres co-criadores, em plano menor, dispomos de potenciais criativos que, uma vez aplicados para o Bem,  potencializam o Belo, dignificando-o. Temos, portanto, a possibilidade de nos compromissarmos com o Bem e o Belo, alterando – aos poucos – nossas próprias paisagens mentais. Se não podemos mudar os outros, pelo menos, temos o poder para mudarmos a nós mesmos, o que já é uma admirável possibilidade. Alterar certos comportamentos mentais, que fazem parte de nossa rotina, para atitudes mais construtivas, é o que em ciência se chama de mudança de paradigmas. Os paradigmas são as lentes ou os referenciais pelos quais vemos e nos relacionamos com o mundo a nossa volta. Quem se detém assistindo os combates de lutas, na modalidade do “vale-tudo”, ou coisa do gênero, se felicitando com as cenas de brutalidade e agressividade desses eventos, permite-se um tipo de “diversão” grotesca que lida com as estruturas mais primitivas do ser.


[1] KARDEC, Allan. A Gênese. Cap. XVII – Sinais dos Tempos, item 25.
[2] FRANCO, Divaldo P. (Pelo espírito Manoel Philomeno de Miranda) Transição Planetária. 3ª Ed. Salvador/BA: LEAL, 2011.
[3] BAUMAN, Zygmunt. A Arte da Vida.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2009. P. 71.
[4] FRANCO, Divaldo P. Transição Planetária. Op cit. P. 240.
[5] Idem. P. 242. 

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