segunda-feira, 21 de abril de 2014

A FÉ NÃO EXCLUI A DÚVIDA!

Jerri Almeida
A fé não exclui a dúvida! No espiritismo, a dúvida dialoga filosoficamente com a fé. O argumento da “verdade absoluta”, em qualquer área do conhecimento, é um “erro absoluto”. No exercício intelectual, na busca do conhecimento e da construção da fé, não se deve desconsiderar os limites naturais de cada um, e a possibilidade de autoengano. Certezas e dúvidas fazem parte desse percurso!
Léon Denis, em sua análise sobre o assunto, adverte: “Ninguém adquire essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida, sem ter padecido as angústias (...). Muitos param em esmorecida indecisão e flutuam longo tempo entre opostas correntezas.”[1] 
A dúvida pode ser um instrumento, como foi para Descartes na filosofia, capaz de conduzir para a análise e rejeição de certas opiniões ou conhecimentos instituídos pelas tradições. A dúvida parte de uma incerteza sobre determinado assunto. Se esse assunto diz respeito às questões religiosas e existenciais, então, essa “dúvida” poderá carregar certas angústias.
Nesse caso, poderá ser considerada uma “dúvida natural”, quando vem acompanhando o indivíduo em sua caminhada existencial, ou uma “dúvida despertada”, quando gerada por uma situação externa. Por exemplo, o defrontar-se com a morte de uma pessoa querida, poderá despertar no sujeito dúvidas sobre a existência de Deus e o sentido da vida. O evento “morte”, por vezes gerador de “angústias”, torna-se capaz e desencadear dúvidas.
Dúvidas e angústias poderão motivar um processo de busca por respostas mais consistentes. Nessa jornada pessoal, percorrerá o sujeito inúmeras possibilidades explicativas, sintonizando-se com aquela que melhor apaziguar suas angústias.
Sócrates, há seu tempo, interrogando o oráculo de Delfos, parte da dúvida para alcançar,  através do questionamento, a certeza e a verdade. Quando se duvida, portanto, é para se conhecer com mais elevado grau de certeza. Certezas administram melhor as angústias! Mas nem sempre podemos ter certezas de tudo!
O desgosto da vida gera uma enorme angústia no indivíduo. Em situações extremas, conduz ao suicídio. O suicídio é, portanto, uma tentativa de fuga, frustrada, das angústias e incertezas da alma. Kardec indagou[2] os espíritos: De onde nasce o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos?  Resposta direta: Da ociosidade, da falta de fé e da saciedade.
A “falta de fé” produz na alma uma espécie de desencantamento consigo e com o mundo! O indivíduo vê a vida acinzentada, sem sonhos, sem esperanças, sem ideais. Uma tormenta qualquer se abateu sobre a vida de alguém, desmanchando certezas construídas sobre areia de praia. A fé, diante da impossibilidade de superação das dificuldades no presente imediato, estimula o reerguimento do sujeito, dando-lhe coragem, determinação, confiança e esperança para prosseguir sua jornada pelas veredas da vida.





[1] DENIS, Léon. Depois da Morte. Fé, esperança, consolações. p. 258
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 943.

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