domingo, 18 de julho de 2010

O DESAFIO DO COTIDIANO


O diferente nos “desestabiliza” por expor o contraditório, muitas vezes, mexendo com as nossas construções no campo do comportamento, do pensamento, dos sentimentos, dos valores... Entretanto, a beleza do jardim está na diversidade dos tipos e no colorido das flores. A riqueza de uma paisagem deve-se à diversificação de seu relevo e sua vegetação, caso contrário, teremos uma paisagem monótona e cansativa. A maravilha do arco-íris repousa sobre seu multicolorido.
Na diferença reside, portanto, o princípio da complementaridade e é exatamente isso que vai temperando as convivências e tornando-as estimulantes. Se todos pensassem iguais, tivessem os mesmos hábitos, gostassem das mesmas cores, seria uma convivência enfadonha, sem desafios e sem crescimento interior.
A complementação entre os diferentes evidencia-se bem, na dualidade dos gêneros humanos: homem e mulher, cuja união não é uma “fusão” pois cada qual continua portador de sua individualidade. Uma união conjugal não traduz a anulação do que cada um realmente é. Com o tempo, as diferenças começam a aparecer gerando – muitas vezes –desentendimentos, conflitos e crises que exigirão maturidade psicológica de ambos os envolvidos para serem equacionadas..
Outra questão é: como fazer da coexistência humana uma integração saudável e realizadora?
Parece-nos que essa questão esteve sempre presente no desenrolar da história do pensamento humano. Filósofos, profetas, religiosos, buscaram edificar postulados e doutrinas visando a equação dessa dúvida atormentadora. Jesus, todavia, formulou uma proposta psicológica altamente profunda, capaz de transformar as relações humanas para um nível maior de plenitude: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Com essa máxima, ofertou-nos um roteiro eficaz, capaz de integrar positivamente os seres humanos, mesmo com suas diferenças.
Devemos começar a tratar com maturidade a questão das diferenças, quer sejam elas: ideológicas, religiosas, culturais, profissionais, emocionais, educacionais, etc. Essa imaturidade humana de intolerância com relação às diferenças, tem plasmado antipatias, ressentimentos, divórcios, brigas, homicídios, guerras e a violência em geral.
O desafio do cotidiano está consubstanciado na arte de bem se relacionar com os outros. Sabermos administrar tal desafio significa trabalharmos para a construção de uma vida mais saudável e realizadora. A palavra respeito ( Respicere, em latim) significa “olhar para o outro” com o sentimento de consideração. Não é preciso concordar sempre com as outras pessoas, mas é fundamental o respeito às opiniões e aos modos de vida distintos do nosso. É nesse sentido em que se fundamenta a tolerância como virtude humana. Entretanto, tolerar não pressupõe ser conivente com o erro, mas compreender a condição de humanidade do outro.
As críticas corrosivas do cotidiano evidenciam a falta de maturidade, sensibilidade e consciência da criatura humana que se permite dar vazão aos seus próprios impulsos negativos e instintivos, dificultando o florescimento das emoções nobres que integram e aproximam os indivíduos no ideal do belo.

Do Livro: FILOSOFIA DA CONVIVÊNCIA de Jerri Almeida

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