domingo, 20 de março de 2011

A ALMA NOS CLÁSSICOS DE HOMERO


O poeta grego Homero que viveu no século VIII a.C., na Jônia, Ásia Menor, é sobretudo conhecido por suas obras: Ilíada e Odisséia.  A ideia da alma aparece em Homero de forma substancial: “a psyché escapa como uma fumaça”[1], por ocasião da morte.  E mais: “Durante a noite apareceu a Aquiles, em sonhos, a alma de Pátroclo, rogando-lhe para apressar a cerimônia do enterro.”[2] É na “Ilíada”, Canto XXIII, que  Homero se reporta a esse fato. Vejamos:

(...)estendeu-se o filho de Peleu à beira do mar tumultuoso, gemendo pesadamente, entre numerosos mirmidões, em sítio puro, onde as vagas batiam na praia. Quando o sono o senhoreou, desligando-lhe as preocupações do coração, profundo, envolvente, pois ele fatigara muitíssimo os membros brilhantes ao arrojar-se contra Heitor na direção da ventosa Ílion, apareceu a alma de inditoso Pátroclo, em tudo semelhante a ele pelo porte, pelos formosos olhos, pela própria voz; semelhantes eram também, no corpo, as vestes que trazia. Pairando acima da cabeça de Aquiles, disse-lhe: Dormes e esquece-mes, Aquiles! Não é, em mim, um vivo que desatendes, senão um morto! Sepulta-me quanto antes, para que eu transponha as portas do Hades. [3]

Na Odisséia, quando Ulisses reconhece sua mãe Anticléia defunta, à qual tenta em vão abraçar porque ‘fugia dentre seus braços como uma sombra ou um sonho’[4]. Vejamos essa passagem inserida  no Canto XI da Odisséia, Evocação dos Mortos:

Surgiu, então a alma de minha defunta mãe, Anticléia, filha do magnânimo Autólico, que eu deixara com vida, ao partir para a sagrada Ílion. Ao vê-la, jorraram-me as lágrimas e meu coração se compadeceu (...).  (p. 135)
(...) e eu em meu espírito ardia em desejo de abraçar a alma de minha defunta mãe. Três vezes me lancei para ela, pois o coração me impelia a abraçá-la; três vezes ela se me esgueirou das mãos, como se fosse uma sombra ou um sonho. (p. 139)


Sobre essas várias passagens concluí Santos, em seu belo trabalho sobre a imortalidade da alma no livro Fédon de Platão:

De fato, Homero afirma inequivocamente que a psyché abandona o homem quando ele morre, escapando com a última respiração da boca, ou também, pela ferida aberta do agonizante. Essa alma vai então para o Hades, onde permanece como vã imagem ou sombra do defunto...[5]

 Somente por essas referências, parece-nos claro a concepção de uma alma nos clássicos de Homero, que sai do corpo por ocasião da morte deste. A alma, nesse momento, ganharia então existência própria, permanecendo como “imagem do indivíduo morto”, indo habitar uma região subterrânea onde as almas dos mortos passariam uma estada melancólica, o Hades.

Notas

[1] HOMERO, Ilíada. (1999, p.24)
[2] Ilíada, XXIII, 72-74; (1999, p. 24)
[3] HOMERO. Ilíada, Canto XXIII – Jogos em honra de Pátroclo.
[4] SANTOS, Bento Silva (OSB). A Imortalidade da alma no Fédon de Platão: Coerência e legitimidade do argumento final. (102a-107b) Porto Alegre. Edipucrs, 1999. Pág. 25
[5] Idem. Pág. 25

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