terça-feira, 13 de novembro de 2012

PERDAS


Jerri Almeida

A emoção de sofrimento, por ocasião de uma perda, representa um estado natural da condição humana. Convém lembrar, entretanto, que tal estado emocional terá uma permanência breve ou demasiada conforme o significado que atribuímos  ao sentido da própria vida, e ao nível de afeto construído com a pessoa que morre. Naturalmente, quem nutre uma visão religiosa, por certo, encontrará mais reforço íntimo para compreender que a vida é feita de experiências e que, delas,  fazem parte as perdas e as posses. Com isso não queremos considerar que a religião removerá os sofrimentos das perdas, mas que contribuirá para que essa dor não nos paralisem demasiadamente num estado mental negativista e desolador.
Refletir, de forma saudável, sobre a possibilidade das perdas e da transitoriedade da existência física, já é uma medida interessante de adequação do nosso mundo emocional às vicissitudes e agruras do cotidiano. Uma doença grave, um acidente fatal ou qualquer outro fato que possamos imaginar, perturbador para a vida, nossa ou de alguém com quem convivemos, muitas vezes geram tal gama de sofrimentos que o indivíduo, fragilizado interiormente, mergulha num vazio existencial, desnorteado...
Foi muito comum no século XIX o “luto histérico”, onde os parentes resistiam em aceitar a morte do outro, entregando-se à rebeldia e a revolta contra Deus em verdadeiras manifestações de histeria coletiva. É o sofrimento que gera sofrimento. Para evitar-se um sofrimento maior, naqueles momentos em que o “mundo parece desabar sobre nós”, o papel da prece, certamente, terá uma função fundamental:  fortalecer o nossa vida interior, que é o espaço da coragem, da confiança, do equilíbrio... Entretanto, não podemos esquecer que há coisas que somente o tempo poderá realizar pois, perder dói e não há como não sofrer.
O desafio será evitar que o sofrimento conduza ao desequilíbrio emocional, pois, nesse caso, suas derivações tenderão a desestruturar a vida afetiva, familiar, profissional, biológica... Administrar tal sentimento é imperiosa tarefa de todos nós. Vivenciar somente a dor que a perda causou sem movimentar recursos para o processo de readaptação, é insistir no sofrimento. 

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