sexta-feira, 17 de agosto de 2012

TANATOS

Jerri Almeida

Os Gregos buscaram, inicialmente, explicar ou representar a realidade através do mito. Aproximadamente entre os séculos XII e IX a.C.,  o pensamento grego encontro na faculdade mitogênica os modelos explicativos para a vida e a morte. O que desafiava o homem a produzir os mitos? O mistério. Nesse sentido se estrutura uma visão de mundo dualista, onde o físico se explica pelo transcendente e a busca pelo significado das coisas se processa pela imaginação.
Os mitos foram, sem dúvida, os modelos explicativos possíveis ao longo de diversas culturas e civilizações. Entretanto, não podemos vê-los como simples fantasias ou delírios da imaginação, pelo contrário, neles vemos toda uma forma de explicação simbólica da vida que, atualmente, encontra valiosos instrumentos interpretativos, por parte das ciências psicológicas.
Na mitologia grega, Tanatos é o deus da morte, filho de Érebo e da Noite que o criou sozinha, gêmeo de Hipnos, deus do sono. Daí a relação estreita entre a morte e o sono/o morrer e o dormir. Tanatos era representado como um homem alado, portando uma tocha apagada. Evidentemente não deveria ser um deus muito apreciado, provavelmente,  vivia na solidão, rejeitado pelos seres humanos em seu intento infame.
A filosofia grega tem seu nascimento entre os séculos VII e VI a C. não significou, contudo, uma ruptura total com o pensamento mítico, mas pode-se dizer que houve um amadurecimento na forma do pensar. O discurso filosófico busca um saber racional, construído em boa argumentação. 
Com Pitágoras (570-496 a.C.) a morte é vista como a libertação da alma que, encerrada no corpo, cumpre um processo de aperfeiçoamento através de várias migrações em busca de uma vivência ética perfeita. Pitágoras e os pitagóricos contribuíram para o surgimento do conceito de imortalidade da alma individual e da transmigração desta, de um corpo para outro. 
 As filosofias dualistas (orfismo, pitagóricos, platonismo, Socráticos...) consideravam, de forma geral, a morte não como o fim da vida do ser, mas o término de um ciclo existencial onde o físico somente se explica pelo extrafísico, supra-sensível, transcendente.
O culto aos mortos entre os romanos  foi, provavelmente, uma herança deixada pelos etruscos e antecedeu a adoração aos deuses.  Segundo Ferreira: “A tradição antiga de manter permanentemente acesso o fogo sagrado nos lares, em homenagem aos ancestrais, nasceu juntamente com a cidade e significava uma expressão do culto aos mortos.” [1] 
Os primeiros romanos praticavam o ato de sepultar e homenagear com alimentos e bebidas os seus mortos.  Os cemitérios romanos eram construído ao longo das estradas como uma forma de afastar os mortos do convívio das cidades [2].  Entre os romanos as ideias de castigos ou recompensas após a morte praticamente não existia. A prática de adoração dos mortos, entretanto, consubstanciava uma importante forma de compensação as pessoas que haviam “deixado a vida”.
Ao contrário dos gregos, os Romanos parecem não ter demonstrado grande preocupação com a ideia da imortalidade da alma e a vida no além. Entendia-se, mesmo, que a morte seria um “repouso” após uma longa viagem [3]. O problema da vida após a morte, por certo, começa a ser divulgada entre os romanos antigos, através das várias concepções religiosas vindas, principalmente, da Grécia, da Pérsia e da Palestina, em virtude das conquistas territoriais realizadas pelos exércitos romanos. Com o Edito de Milão em 313, o imperador Constantino[4] reconhece o Cristianismo como religião (ainda não oficial) e libera sua crença no Império. Daí em diante, as ideias cristãs sobre a vida futura ganharam, cada vez mais, adeptos entre os romanos.

Notas

[1] FERREIRA, Olavo Leonel. Visita à Roma Antiga. São Paulo, Moderna, 1997, P. 60
[2] ARIÉS, Philippe e DUBY, Georges. História da Vida Privada: Do Império Romano ao ano mil.  Vol. 1. São Paulo, Cia das Letras, 1997. P. 486.
[3] Idem. P. 210-211.
[4] MACEDO, José Rivair. Religiosidade e Messianismo da Idade Média. 1ª ed. São Paulo, Moderna. Cap. 1.

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