quarta-feira, 13 de junho de 2012

O SER MORAL

 Não sendo o ser humano um “autômato”, as relações sociais e o inter-relacionamento pessoal tornam-se complexos pela forma como usamos nossa liberdade. Filosoficamente, Aristóteles (384-322 a.C.) considerava que o homem é um animal político, isto é, capaz de viver na Pólis (Cidades-Estados da Grécia), através da criação de leis e normas morais. Nesse sentido, o ser humano se socializa, em tese, apoiado numa convivência organizada segundo os princípios da justiça, da igualdade e da preservação da liberdade.
Uma boa convivência exige esforço e organização que perpassa todos os níveis da vida humana. A família enquadra-se nesse contexto ?  Sem dúvida. A família é um núcleo formativo e um lugar de proteção básica e, como tal, é necessário que a família não sufoque a autonomia, a determinação e as responsabilidades das pessoas que a compõem.
A Doutrina Espírita, em várias abordagens, considera a família em seu fundamento espiritual, um verdadeiro educandário que, se não tiver por base uma relação amorosa e afetiva  pode transformar-se numa verdadeira prisão para um dos cônjuges, para ambos e/ou para os filhos, perdendo o seu significado fundamental de agência educadora.
Em termos de vida comunitária, a organização da convivência humana tem se processado, historicamente, pela formulação de leis e códigos reguladores da liberdade individual e coletiva. Enquanto as leis abrangem mais as relações civis, os códigos possuem uma dimensão no campo ético (ethos) e moral (mos,  mores). A própria vida possui a sua  Lei Natural, muito bem estudada em O Livro dos Espíritos em sua 3ª Parte, a qual não somente rege a realidade física, em sua ampla generalidade, como também  o mundo moral-espiritual humano, garantindo, assim, a ordenação no próprio Universo.
A criatura humana difere dos demais seres vivos pela capacidade intelectiva de fazer leituras da realidade e dar significado à vida. Essa capacidade humana cria o mundo da cultura (ciência, tecnologia, arte, hábitos, leis, normas morais, valores...). Na verdade, desde o momento em que o homem passou a refletir sobre suas ações e o meio onde está inserido, surgiu a necessidade de se estabelecer princípios de comportamento visando a vida em comum acordo.
Na Antiguidade, vemos o exemplo dos Dez Mandamentos... A redação do denominado Antigo Testamento provavelmente ocorreu entre  o segundo e o primeiro século antes de Cristo[1], todavia, seus preceitos continuam extremamente atuais. Com Sócrates, filósofo grego que morreu em 399 antes de Cristo,  temos de forma coerente e lógica a defesa da moral. Nos diálogos intitulados: “Apologia de Sócrates”, Platão (428-347 a.C.) descreve como Sócrates, acusado de corromper os jovens e não acreditar nos deuses, enfrenta os seus acusadores – que o levariam à morte – na busca pela verdade. Daí o conceito de virtude para Sócrates estava relacionado ao cuidado da alma, para aperfeiçoá-la e torná-la mais próxima de uma condição espiritual de felicidade.
Jesus, a seu turno, apresentou-nos preceitos morais de grande valor humano: “Faça aos outros o que desejas que os outros de façam” e “Amar a Deus acima de todas as coisa e ao próximo como a si mesmo”.  Com Cristo se aprofundam esses admiráveis códigos morais de abrangência universal,  a-temporal e supracultural.
Allan Kardec, na segunda metade do século XIX, analisando a definição espírita sobre “moral”, conclui sobre três itens:

A moral é a regra de bem proceder;
Bem proceder significa distinguir o bem do mal;
O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos.

A convivência humana, em suas múltiplas dimensões,  postula a adoção imprescindível de um comportamento saudável em relação ao outro. Essa racionalidade – de buscar sempre o “bem de todos” – não significa que temos que agradar sempre ou fazer um esforço “sobre-humano” para “salvar todo o mundo”, mas tão somente nos convida a adoção de um comportamento construtivo, positivo e coerente, na ordenação da nossa vida íntima e, por conseqüência, em sociedade. Assim a liberdade relativa que possuímos passa a ter uma lógica de responsabilidade na edificação e manutenção do que poderíamos denominar “coexistência pacífica”.



[1] ARGOLLO, Djalma Motta. O Novo Testamento: um enfoque espírita. 1ª ed. Mnêmio Túlio Editora, São Paulo, 1994. Página 31.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pesquise no Blog

Loading

TEXTOS/ARTIGOS ANTERIORES