A felicidade tem sido um tema recorrente na literatura. Uma relação amorosa regada pelos conflitos e dramas humanos! O romance A Viuvinha, do escritor José de Alencar, narra história de Jorge, filho de um negociante rico que falecera, e que foi criado por velho amigo de seu pai. Quando chega à maioridade, e passando a tomar conta de seu patrimônio, Jorge descobre os prazeres que o dinheiro pode proporcionar e entrega-se aos seus desejos e vaidades. Mas a busca desenfreada e delirante do gozo o faz sentir um vácuo e, surge o tédio. Com o tédio, a solidão. Percebendo que a felicidade não estava no delírio do prazer, Jorge busca num templo religioso aquele “algo mais” que representa os anseios mais profundos do ser humano. Mas a vida é curiosa! Nesse templo, o personagem de Alencar conhece uma jovem, de 15 anos – Carolina – por quem se apaixona perdidamente. Pouco tempo depois, já estavam com o casamento marcado e, ambos, com os corações enternecidos, almejavam o sonho de toda a humanidade: a felicidade.
Mas a felicidade inconstante, na trama de A Viuvinha, não se distancia muito da vida real. O que ocorre é que o desfecho literário buscou, na maioria das vezes, sintetizar as aspirações humanas por um “final feliz”. Não raro, a questão da felicidade está associada, no texto ficcional, a um amor romântico que, a cada nova cena, se vê cercado de crises e obstáculos, distanciando os protagonistas, e por extensão o próprio leitor, de seu ideal de plenitude e realização que deve ser atingido somente nas últimas páginas do livro.
O tema da felicidade esteve presente, também, em outro clássico da literatura brasileira: Olhai os lírios do campo, do escritor Érico Veríssimo. Percebe-se a universalidade do texto literário, justamente por ele enfocar questões essenciais para o ser humano. Eugenio, personagem central do romance, caminhando em uma madrugada pelas ruas desertas, passa em revista sua vida e, diante dos problemas enfrentados, indaga-se se um dia chegaria a encontrar a paz interior, tão almejada. Relendo as cartas de Olívia, sua antiga amiga e depois amante, Eugenio começa a vislumbrar, nelas, um rico manancial de ensinamentos, onde percebe que a felicidade deve estar não na “santidade” ou no “ascetismo”, mas no ato de fazer o outro feliz. (1)
O texto propõe uma relação de intimidade e afeto com a vida, de enternecimento mesmo. O romance relaciona a felicidade à bondade, mas dentro de um dinamismo essencial. Quando alguém assevera que é “bom” por não fazer o mal, está considerando somente que não realiza ações contrárias aos princípios naturais da vida. Entretanto, se a pessoa não desenvolve o seu potencial criativo nas ações nobilitantes, ela permanece passiva no bem, isto é, sem o praticar. Não basta não praticar o mal, é necessário exercitar ativamente o bem.
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