sábado, 7 de agosto de 2010

UMA FÁBULA E A MORAL DA HISTÓRIA

Conta-se que Esopo era um escravo de rara inteligência, que servia à casa de um conhecido chefe militar da antiga Grécia. Certo dia em que o patrão conversava com outro companheiro, discorrendo sobre os males e virtudes do mundo, Esopo foi chamado a dar sua opinião, ao que respondeu:
- Tenho a mais absoluta certeza de que a maior virtude da Terra está à venda no mercado.
- Como pode podes afirmar tal coisa? Interrogou o amo.
- Não só afirmo, como se meu amo me conceder a autorização, irei até lá e trarei, à vossa presença a maior virtude da Terra.
- Estás autorizado. Mas, caso for brincadeira, punir-te-ei com castigos.
Saiu Esopo e, dali a minutos, voltava carregando um pequeno embrulho nas mãos. Ao abrir o pacote, o velho chefe encontrou vários pedaços de língua, e, enfurecido, pediu explicações ao escravo.
- Meu amo, não vos enganei. A língua é, realmente, a maior das virtudes. Com ela, podemos consolar, ensinar, esclarecer, aliviar e conduzir. Pela língua, os ensinos dos filósofos são divulgados, os conceitos religiosos são espalhados, as obras dos poetas se tornam conhecidas de todos. Acaso podeis renegar essas verdades?
- Boa, meu caro, retrucou o amigo do amo. Já que és tão desembaraçado, que tal trazer-me agora o pior vício do mundo, ou achas que o nosso mercado não o tem em estoque?
- É-me perfeitamente possível Senhor, e, com nova autorização de meu amo, irei novamente ao mercado e de lá trarei o pior vício de toda a Terra.
Concedida a permissão, saiu novamente Esopo, e, dali a minutos, voltava com outro pacote muito semelhante ao primeiro. Ao abri-lo, os dois amigos encontraram novamente pedaços de língua. Desapontados, interrogaram o escravo e obtiveram dele surpreendente resposta:
- Por que vos admirais de minha escolha? Do mesmo modo que a língua bem utilizada, se converte numa sublime virtude, quando relegada a planos inferiores se transforma no pior dos vícios. Através dela, tecem-se as intrigas e as calúnias, as mentiras cruéis, as injúrias e as violências verbais. Através dela, as verdades mais nobres podem ser corrompidas. Através dela, estabelecem-se as discussões infrutíferas, os desentendimentos prolongados e as confusões populares que levam ao desequilíbrio social. Acaso podeis refutar o que digo?
Impressionado com a inteligência invulgar do serviçal, o velho senhor reconheceu a contradição que era ter um homem tão sábio como escravo e deu-lhe a liberdade. Esopo com o tempo tornou-se o mais conhecido fabulista da antiguidade.
Essa pequena história encerra um valioso ensinamento moral. A palavra, enquanto instrumento de comunicação é, em si mesma, neutra. O uso que fazemos dela, tonificada pela ação dos nossos sentimentos, torna-la-á construtiva ou depreciativa, esperançosa ou pessimista, sábia ou destruidora....
Não é por outro motivo, a citação do apóstolo Pedro: “Porque quem quer amar a vida, e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano”.

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