sábado, 13 de fevereiro de 2010

SANTO AGOSTINHO E A FELICIDADE

Todas as pessoas anseiam pela felicidade, mas, conforme escreveu Santo Agostinho (354-430 d.C.) em suas Confissões, há um constante duelo entre o corpo e o espírito e, nesse embate, muitos cedem à pressão do corpo. Para ele, o homem somente “será feliz quando, liberto de todas as moléstias, se alegrar somente na Verdade, origem de tudo o que é verdadeiro”. Portanto, a felicidade, para ele, provém da verdade, que é Deus e da alegria da fé, sendo que a “idéia da felicidade” estaria arquivada na memória humana, pois podemos recordá-la mesmo nos momentos de tristeza. Podemos identificar os valores do Bem, mesmo não os seguindo.
O pensamento agostiniano sobre a felicidade parte da idéia de uma tomada de atitude, de uma opção9: “Como procurar, então, a vida feliz? Não a alcançarei enquanto não exclamar: ‘Basta, ei-la’”. Essa questão é oportuna para os dias atuais onde as pessoas andam sem rumo, de um lado para outro, infelizes e depressivas. A felicidade é, na visão de Agostinho, uma decisão pessoal, é um “basta para a infelicidade e para o pessimismo”. Podemos destacar, de forma geral, que dois elementos foram fundamentais para que Santo Agostinho chegasse a essa conclusão: o hábito da oração, e da meditação, principalmente, sobre os Salmos da Bíblia.
Enriquecer os pensamentos com leituras e reflexões otimistas, permite o alargamento de horizontes confortadores sobre a vida, na medida em que estimulam os bons sentimentos e reconfortam o coração. Já que todos buscam a felicidade, não seria demais enfatizarmos que a esperança é um componente essencial da vida e, no qual, revitalizamos nossas forças durante a caminhada, por vezes desafiadora.
O problema da felicidade, por sua vez, se coloca – como já mencionamos – na relação direta do conflito entre razão e desejo, onde, o desenvolvimento da capacidade humana de ser feliz, se defronta com uma disputa interna pelo princípio do prazer
.Sob esse ângulo, devemos perceber que, a cada momento de nossa vida, nos encontramos no pulsar dos instintos ou da inteligência e que, a partir daí, nossas disposições morais e o conjunto de valores que nutrimos poderão atuar na educação desses impulsos naturais, atingindo-se um estado de sublimação e felicidade sobre si mesmo .Entretanto, para muitos, a felicidade está no prazer e a infelicidade, na falta do prazer. O prazer ligado à sexualidade, à sensualidade e à erotização faz parte hoje de uma cultura de mídia, que faz da beleza física, não um caminho para a realização profunda do espírito humano, mas um reflexo vazio e superficial dos sentimentos em desalinho.
Dessa forma, observa-se um culto “à beleza” que vem acompanhado da corrida aos consultórios de cirurgias plásticas na expectativa de se comprar o “corpo perfeito”.Isso tudo impressiona, é bonito e sedutor, todavia, esses valores, embora respeitáveis, são frágeis, pois temporários. Talvez o desejo esteja abafando a razão, pois, muito embora o embelezamento físico fortalecer a saúde, a autoestima, cremos que ele deva agregar outros valores que possam sublimar também, os sentimentos e humanizar a inteligência.

Referência Bibliográfica

ALMEIDA, Jerri R. S. O Desafio da Felicidade - em um mundo em transformação. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2007. Cap. 3.

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