sábado, 9 de maio de 2009

Uma amostragem da tese espírita: dois casos sugestivos de reencarnação (Parte II)


O caso Rodrigo e Fernando
(Estudado por Hernani Guimarães Andrade)

Imagine um casal no período de uma semana, enfrentar a morte de dois de seus filhos? Entre os dias 7 e 13 de janeiro de 1923 esse doloroso fato foi vivenciado pelo Sr. Jesuíno V. Marques e sua esposa D. Eulina Sl. Vilares. Cristiano, com seis meses, desencarnou com uma gastroenterite, e Fernando, de 4 anos, seis dias após, vitimado por uma doença de complexo tratamento para a época. Após a morte dos dois meninos, os pais com a filha Antônia, resolveram mudar daquela casa, adquirindo outra residência onde passaram a morar.
Em entrevista ao Dr. Hernani G. Andrade, no dia 4 de julho de 1975, Antônia relatou que após instalados na nova casa, ela passou a ter visões muito reais de Fernando, o “Nandinho” como era chamado em família. A noite, antes de dormir, ela via o espírito do menino adentrar em seu quarto e subia, como sempre o fazia quando encarnado, em sua cama. Mesmo sem se assustar, a menina resolveu relatar o fato a seu pai. Entretanto, na noite seguinte, o espírito de Fernando percebendo que seu pai aproximara-se do quarto, desapareceu e não mais tornou a voltar.
Dona Eulina S. Vilares engravidou em pouco tempo, sendo que no dia 21 de dezembro de 1923, nasceu Rodrigo. Quando Rodrigo estava com dois anos e meio, sua mãe estava revendo alguns objetos pertencentes a Fernando que houvera guardado. Entre os objetos havia um copo de alumínio. Rodrigo aproximou-se e exclamou: - Ah! O meu copo! É meu, mamãe!
Naturalmente Dona Eulina explicou de forma simples, que aquele copinho havia sido de seu outro filho. Ficou espantada, no entanto, ao ouvir o pequeno insistir: - Eu sou o Rodrigo, mas eu era o Fernando! Eu era grande assim! A partir desse fato, Rodrigo passou a insistir e a fornecer dados de fatos ocorridos com Fernando. Certo dia, mexendo em suas coisas, D. Eulina encontrou uma roupinha de escoteiro que havia confeccionado para Fernando. Sem ouvir nenhum comentário a respeito da roupa, Rodrigo enfaticamente afirmou: - Ah! Minha roupinha de escoteiro.
O fato começou a atrair a atenção e a preocupação dos familiares. Na medida em que o tempo passava, Rodrigo demonstrava conhecer detalhes da vida de Fernando. Nesse sentido, vários episódios reveladores se seguiram. Quando Fernando estava próximo de morrer, chamou pelo e pai e pediu que lhe trouxesse Petita, sua galinha de estimação. De repente, a galinha subiu na janela de seu quarto. O menino chamou por ela, que aproximou-se de sua cama. Nandinho então passou a mão sobre ela carinhosamente. Isso ocorreu momentos antes de sua desencarnação. Rodrigo descreveu, espontaneamente, esse fato com muito detalhe, sem que ninguém lhe tivesse contado.
Quando Fernando ainda estava encarnado, sua avó havia mandado fazer duas pequenas cadeiras iguais, uma para ele e outra para sua irmã Antônia. Para diferenciar sua cadeira, Fernando fez dois riscos, com um prego, pelo lado direito do espaldar. Quando Rodrigo cresceu, passou a usar uma das cadeirinhas. Antônia já estava grande e não tinha mais interesses naquele móvel, mas Rodrigo, sem conhecer o fato, escolhia sempre a cadeira que havia pertencido a Fernando.
O fato de Rodrigo reconhecer como seu os objetos que haviam pertencido a “Nandinho” é um aspecto relevante. Fernando havia ganhado de seu pai um par de sapatos marrom, cor que muito lhe agradava. Com sua desencarnação o sapatinho foi carinhosamente guardado. Em certa ocasião, quando contava com idade próxima de 3 anos, Rodrigo viu o tal sapatinho quando sua mãe arrumava o armário. Pareceu tomado de grande euforia asseverando sem titubear: “Meu sapatinho que papai trouxe!”
Marcante, no entanto, foi o evento ocorrido na antiga residência da família, onde os irmãos haviam morrido. Depois de algum tempo, o Sr. Jenuino vendeu a casa onde moravam num lucrativo negócio, tencionando retornar para a antiga morada. De acordo com os relatos de D. Antônia, o pai havia solicitado que sua esposa fosse até a casa para fazer faxina e alguns reparos. D. Eulina dirigiu-se para a antiga residência acompanhada de Rodrigo. O menino nunca havia ido lá e, tampouco, sabia que nela havia ocorrido as mortes de Cristiano e Fernando. Quando D. Eulina abriu a porta da casa, Rodrigo começou, sem nenhuma justificativa, entrar em pânico. E, aos prantos, pedia que sua mãe não entrasse. Chorava, desesperadamente, de tal forma que a mãe não conseguiu entrar na casa, nem ao menos para ver a situação interna do imóvel. Foram embora e, no caminho, o menino olhava para trás como se algo lá ocorrido lhe causasse verdadeiro terror. A família procurou outra casa para fixar moradia.
Rodrigo, ao ver a residência onde havia morrido, na personalidade de Fernando, acessou sua memória extra-cerebral, revivendo as angústias da enfermidade e o processo da desencarnação. Descreveu, ainda, sua falecida avó, sem tê-la conhecido nesta encarnação.
Aos 52 anos de idade, quando se encontrou com o Dr. Hernani G. Andrade, Rodrigo afirmava recordar-se perfeitamente de uma ocasião em que Fernando, juntamente com outros amiguinhos, caiu dentro de um rio, afirmando: “...Eu me lembro que o rapaz que me pegou (refere-se como se ele fosse Fernando) no rio teve de levantar-me para o alto, porque a distância entre a água e o nível de cima era grande.”
As hipóteses explicativas levantadas por Hernani G. Andrade (fraude deliberada, criptomnésia, telepatia, memória genética, incorporação mediúnica) foram sendo eliminadas, uma a uma, através de análise criteriosa de doze itens sobre o fato e sólidos argumentos. Em sua conclusão sobre o caso, Dr. Hernani considerou que as hipóteses investigadas mostraram-se insuficientes para explicar esse evento, com exceção da hipótese das vidas sucessivas. Considerou que a reencarnação da personalidade de Fernando em Rodrigo tenha sido a mais sólida e plausível explicação para se entender o ocorrido.
Rodrigo conservou o “estoque” de informações adquiridas pela personalidade de Fernando durante sua vida corporal. Como o período entre a desencarnação e sua reencarnação foi muito breve, retornando, inclusive, na mesma família, esses dados ainda estavam muito presentes no seu psiquismo. Andrade considerou que: “Em certas circunstâncias, as informações estocadas na memória subconsciente da individualidade espiritual poderão aflorar, em forma de ‘memória extra-cerebral, na nova personalidade. Têm-se então, as manifestações de comportamento e de lembranças reencarnatórias (...)”.

Palavras finais

A necessidade de o espírito retornar, muito brevemente, ao mundo físico se explica a partir de alguns fatores, dentre os quais destacamos: concluir tarefa ou missão importante; reencontro com fortes laços afetivos ou com violentos sentimentos de ódio, entre pessoas que foram protagonistas de dramas, tragédias, em seu passado existencial, próximo ou remoto. A reencarnação responde também, pelo processo evolutivo dos indivíduos e das sociedades, oferecendo condições para que o espírito amplie seu leque de experiências culturais, intelectuais, afetivas e espirituais.
Se as pesquisas e conclusões de Ian Stevenson e Hernani G. Andrade foram objeto de críticas por setores materialistas do mundo acadêmico, ofereceram contributo extraordinário ao universo das pesquisas psicológicas. Esses dois notáveis cientistas tiveram a lisura e coragem de, como diria Kardec, tirar o véu que encobria os fatos, até então inexplicáveis por outras hipóteses.
A tese espírita da imortalidade da alma e da reencarnação, dessa forma, evidencia-se pelos esforços investigativos da ciência que não se fecha em preconceitos pueris. Assim como asseverou Allan Kardec que o Espiritismo acompanharia a ciência e aproveitaria toda a contribuição que esta lhe pudesse oferecer, o que se nota inegavelmente com esses trabalhos.
A reencarnação não pode ser posta no terreno da crença ou limitada meramente ao universo religioso. Trata-se de compreendê-la sob o prisma da racionalidade e da investigação, uma vez que a pluralidade das existências encontra-se estribada nas Leis da Vida, consubstanciando o processo de evolução do espírito humano, sob a égide da Justiça Divina. Compreender a reencarnação como um mecanismo natural da vida é a possibilidade de ampliarmos nosso entendimento sobre o contexto ao qual nos inserimos – individual e coletivamente – e, ao mesmo tempo, despertar-nos para a responsabilidade de bem administrarmos nossa existência, sobretudo, educando nossos sentimentos dentro da Lei de Justiça, Amor e Caridade.


Bibliografia

STEVENSON, Ian. Vinte Casos sugestivos de Reencarnação. Trad. Agenor Pegado e Sylvia M. P. da Silva. São Paulo: Editora Difusora Cultural, 1970.
ANDRADE, Hernani Guimarães. Reencarnação no Brasil. 2ª. ed. Matão-SP: Casa Editora O Clarim, 1998.
ALMEDER, Robert. Sobre a Reencarnação. In. DOORE, Gary.(Org.) Explorações Contemporâneas da Vida Depois da Morte. Trad. Hloysa De Lima Dantas. São Paulo: Cultrix, 1990. p.

Um comentário:

  1. Prof.Jerri Almeida,Parabéns pela excelente iniciativa.Desde já o convido para visitar nosso blog e participar de um fórum onde abordaremos temas espíritas,sua participação será de grande valia para o entendimento dos tópicos que serão abordados.Um abraço fraterno e muia paz

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