Jerri Almeida
Nos anos 50, o
escritor e sociólogo Deolindo Amorim defendia um estudo integrado e aprofundado
das obras de Kardec. Passou o tempo, chegamos ao século XXI, mas o Espiritismo
continua sendo uma doutrina pouco compreendida na sua essência. O pensamento de
Kardec ainda é muito desconhecido, mesmo no meio espírita. Suas obras são
estudadas (quando são) de forma superficial e fragmentadas. O próprio professor
Rivail já alertava na Revista Espírita de novembro de 1864: “Está
provado que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que
pelos que não o compreendem absolutamente, e, mesmo, pelos inimigos
declarados.”
Em pouco tempo, se os espíritas não se voltarem para o estudo da ampla
obra kardequiana, o Movimento Espírita, de “espírita”, só terá o nome.
Observamos com certa preocupação, em certos encontros, “preces em círculo”, ou
“de mãos dadas”, entre outras posturas incoerentes com os ensinamentos
espíritas que, infelizmente, se proliferam. Voltar-se para a fonte primária,
buscando absorver dela, em primeiro plano, o que é realmente o Espiritismo, eis
o desafio do momento.
Léon Denis, em seus escritos chegou advertir: “O espiritismo será o que
dele fizerem os homens”. Com sua lucidez habitual, o filósofo percebia, desde
sua época, o descompromisso de muitos “espíritas” com o estudo sério, nos
moldes apresentados por Allan Kardec, com senso crítico e analítico dos textos
e dos fenômenos.
Em seu livro O Que é o Espiritismo,
no terceiro diálogo, Kardec aconselha o estudo da teoria espírita, indicando
suas publicações como roteiro para a compreensão dos princípios fundamentais do
Espiritismo. Vejamos:
“Dissemos que o melhor meio de se esclarecerem sobre o
Espiritismo é estudarem previamente a teoria; os fatos virão depois,
naturalmente, e serão facilmente compreendidos, qualquer que seja a ordem em
que as circunstâncias os façam vir. As
nossas publicações são feitas no intuito de favorecer esse estudo; eis aqui
a ordem que aconselhamos. A primeira
leitura a fazer-se é a deste resumo, que apresenta o conjunto e os pontos
mais salientes da ciência; com isso, pois, já se pode fazer dela uma ideia e
ficar-se convencido de que, no fundo, existe algo de sério. Nesta rápida
exposição esforçamo-nos por indicar os pontos sobre que particularmente se deve
fixar a atenção do observador. A
ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas apreciações da
maioria daqueles que querem julgar o que não compreendem, ou que se baseiam em
ideias preconcebidas. Se desta leitura nascer o desejo de continuar, deve-se ler O Livro dos Espíritos,
onde os princípios da doutrina estão completamente desenvolvidos; depois, O Livro dos Médiuns,
para a parte experimental, destinado a servir de guia aos que desejarem operar
por si mesmos, como aos que quiserem bem compreender os fenômenos. Vêm depois
as diversas obras onde são desenvolvidas as aplicações e as consequências da
doutrina, como: O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o
Inferno segundo o Espiritismo, etc.”
Havia uma nítida preocupação de Kardec com o estudo e compreensão da doutrina
espírita. Ele, como bom pedagogo, oferece uma alternativa para isso, pois
afirmava que a ignorância dos princípios fundamentais é a causa das falsas
apreciações e das práticas incoerentes.
Estudar Kardec de forma integrada e problematizada é um caminho para
resgatarmos o pensamento espírita, em suas bases mais sólidas.
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