domingo, 12 de julho de 2009

Ética Kardequiana para a convivência - Final


A ética kardequiana

Não podemos virar “reféns” dos melindrosos, mas, vale lembrar que a filosofia espírita nos conclama a uma ética de convivência pautada na tríade : Trabalho, Solidariedade e Tolerância. O trabalho é a esfera de ação pela qual o indivíduo se dispõe ao exercício do bem, tanto no sentido pessoal – trabalhar para melhorar-se como pessoa – como no sentido coletivo. A solidariedade é a força aglutinadora que está relacionada com a sensibilização ou percepção das dificuldades que as outras pessoas enfrentam. Ser solidário é, portanto, mudar sua atitude de indiferença diante das necessidades do próximo, rompendo com as velhas posturas individualistas. A tolerância, não é a conivência com o erro, é a virtude que nasce da compreensão sobre a natureza humana, e das limitações de que somos portadores, pela nossa incompletude espiritual.
A articulação desses três princípios deverá servir para evitar as mágoas e ressentimentos, tão presentes na vida cotidiana da humanidade. No campo do trabalho espírita, entretanto, urge a preocupação com a manutenção da disciplina dos seus servidores. Pontua Herculano Pires, como não poderia deixar de ser, que a disciplina deve ser exercitada no Centro Espírita, sob a orientação da fraternidade cristã e não sob um condicionamento militar. Quando necessário, o dirigente deve chamar o trabalhador em particular e expor-lhe com clareza o que observou a seu respeito, aconselhando-o a estudar seu comportamento, porque o ato de aperfeiçoar-se é princípio da vida universal. Assevera o professor Herculano Pires que:

A verdade deve estar presente em todos os momentos das atividades espirituais, mas a verdade nunca pode ser agressiva, sob pena de produzir o contrário do que se deseja.


Somos seres interligados uns aos outros por múltiplas necessidades vivenciais. Justo portanto, que reconheçamos também a condição de humanidade do outro, percebendo que a vida é como uma rede onde tudo está interligado, dinamicamente, convidando-nos ao crescimento. Dentro dessa racionalidade, não há mais espaço para a intolerância e o individualismo. Agora, mais do que nunca, começamos a compreender o princípio de que todos somos irmãos.
Para o sociólogo colombiano Bernardo Toro, autor dos denominados: “Códigos da modernidade”, é imprescindível o desenvolvimento da capacidade de associar-se e trabalhar em grupos através de um modelo de organização cooperativo. Daí a importância de ressignificarmos nossas relações inter-pessoais, no sentido de adequá-las a uma estabilidade fraternal.
O codificador nos lembra ainda que: “A tolerância é fruto da caridade que constitui a base da Doutrina Espírita”. E sobre a preservação da harmonia na convivência, ainda nos adverte seriamente: “É, portanto, dever de todos os espíritas sinceros anular as manobras da intriga que se possam urdir, assim nos pequenos, como nos grandes centros”.
Portanto, ao apresentar o seu lema: “Trabalho, Solidariedade e Tolerância”, Kardec, através de seu bom senso, nos ofertou uma admirável proposta ética, ou, nas palavras bem colocadas de Hélio Burmeister: “[...] diretriz impostergável que, firmando-se a partir do indivíduo, venha a constituir-se em norma de comportamento e ação dos grupos organizados e, por conseqüência, do movimento espírita em busca da Unificação.”
A convivência é, pois, desafio à capacidade humana de superar seus próprios limites internos. Diante das problematizações da vida relacional, dentro e fora da instituição espírita, é necessário solidificarmos uma ética mínima para nortear a relação inter-pessoal. Pensar sobre a convivência, abre horizontes para repensarmos os valores que nos nutrem a alma.

Palavras finais

Buscamos evidenciar, nessas poucas linhas, a preocupação de Kardec com a questão da convivência entre os espíritas, preocupação, aliás, que deve ser nossa também. Qual a saída para esse histórico problema? Sem buscarmos caminhos simplistas, parece-nos que deveremos investir profundamente em um trabalho, sistemático, internamente em nossas instituições, sobre a questão da ética kardequiana para a vivência em grupo. Nesse sentido, cada Sociedade Espírita, de acordo com suas especificidades, organizaria um projeto privilegiando e sistematizando essa questão.
O tema poderia, ainda, ser objeto de reflexão permanente nos grupos de Estudo e demais reuniões setoriais e gerais da Casa Espírita. Os condutores desse trabalho devem estar bem imbuídos dos ideais de fraternidade e da vigilância, sobretudo, para motivarem, com sua postura pessoal, os demais membros da instituição. Quem trabalha na seara espírita, não deve esquecer jamais, que ali está para servir de forma ingente e profícua, e não para criar obstáculos e problemas, notoriamente, infantis. Cabe ao espírita, em particular, a necessidade de empenhar esforços conscientes para o exercício pragmático dos postulados teóricos, na vivência de uma verdadeira ética renovadora das relações humanas, conforme preconizou e viveu Allan Kardec.

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