domingo, 3 de abril de 2011

SEXUALIDADE & CONJUGALIDADE

Na estrutura cerebral mais antiga, representada pelo diencéfalo e nos chamados núcleos da base do cérebro primitivo, incluindo a hipófise e a epífise, encontram-se registrados os instintos primários, incluindo o instinto sexual. O hipotálamo, por exemplo, comanda a hipófise, que, por sua vez, administra a estrutura neuro-hormonal genital.
O espírito Joanna de Ângelis, realizando um valioso estudo sobre a sexualidade humana, em seu livro: Encontro com a paz e a saúde, acrescenta que:

Sendo um dos instintos primários de grande vigor fisiológico, a sua função origina-se quando da liberação da luliberina, a responsável pelo controle dos hormônios sexuais, produzida no hipotálamo. Quando mínimas quantidades desse neurotransmissor são liberadas e captadas pelo diencéfalo, de imediato desencadeiam o desejo sexual. Da mesma forma, outra substância, a oxitocina produz o mesmo resultado, o que faz seja a busca sexual um fenômeno biológico portador de grande força (...) quando se associam a dopamina e a betaendorfina, facultando a atuação sexual ao lado do desejo... (p.157-158)

Mas para que não venhamos a limitar a manifestação sexual exclusivamente a um fisiologismo cerebral, Joanna adverte ainda que:

Como é certo que os hormônios são responsáveis pelas ocorrências do prazer e do desconforto moral, da harmonia como da agressividade, da alegria como da tristeza, é o espírito que imprime nos neurônios a capacidade de produzir esse ou aquele neurotransmissor responsável por tal ou qual finalidade. (p. 165)

Sendo verdade que no diencéfalo se expressam os variados estados de excitação e a ânsia do desejo, favorecendo as reações fisiológicas da sexualidade, também é correto afirmarmos que o agente indutor de todo esse processo é o ser espiritual. Portanto o cérebro expressa, por automatismos, as contingências do eu profundo. 
Na configuração dos relacionamentos afetivos, a sexualidade responde por uma valiosa permuta de energias entre o casal. O espírito André Luiz, não por acaso, fala em: “renovação dos impulsos”, e “partilhar compromissos”. Sim, a vida conjugal impõe, naturalmente, o desafio na construção de projetos comuns, onde o diálogo e o companheirismo estruturam uma convivência compensadora. Para isso, no entanto, o casal não deve descuidar do papel conjugal, ou seja, a continuidade do namoro, a ternura, os momentos de privacidade e lazer a dois.
É comum, depois que nascem os filhos, o casal virar “pai e mãe”, negligenciando a sexualidade. Evidentemente, durante um determinado tempo, após o nascimento de um filho, é justo que o casal passe a dar uma atenção maior aos papéis de pai e mãe. Todavia, com o tempo, o casal deve retomar seus momentos de intimidade, até mesmo, para aliviar um pouco as tensões da maternidade/paternidade. Jantar fora, pegar um cinema, são investimentos preciosos na saúde do casamento. Tudo o que cuidamos dura mais!
Muitos casais vivem uma rotina angustiante, corroendo as engrenagens do relacionamento por falta de manutenção do afeto.  A partir daí, os impulsos agressivos e os desentendimentos vão se tornando cada vez mais frequentes, com reflexos na administração dos problemas que surgem no dia a dia da existência. 
A função sexual traduz uma troca não somente de carícias, de satisfação dos desejos, mas uma verdadeira simbiose energética, potencializando o relacionamento. Muitos casais parecem ter negligenciado a dimensão positiva da sexualidade no conjunto da vida conjugal. Nessa dimensão, ocorre a possibilidade singular de comunicação entre duas individualidades que, reciprocamente, buscam uma unidade.
O sexo no casamento é um revitalizar do afeto, e não somente a expressão fisiológica das estruturas hormonais. É uma permuta de vibrações psíquicas altamente positivas para a integração dos cônjuges. André Luiz, em seu livro: Sexo e Destino, informa que a união sexual produz uma permuta de energias perispirituais que estimulam a realização entre as almas.  Muitas vezes distorcido pelos valores da cultura pós-moderna, o sexo  é visto como um produto para o prazer fugaz e para a ruptura com a solidão.
A manutenção da sexualidade, regada pelo carinho e entendimento, é fator importante para o equilíbrio do relacionamento. Quando as primeiras dificuldades emocionais aparecem, o distanciamento sexual surge, veladamente ou não, como um fator conflitivo.
Devemos atentar que certos bloqueios na área da sexualidade, principalmente feminina, podem ter ocorrências em vivências sexuais traumáticas, no passado reencarnatório, onde a mulher era obrigada a casar muito nova, sem nutrir amor pelo futuro marido. O ato sexual para ela tornava-se verdadeiro sacrifício, muitas vezes acrescido pela brutalidade do homem. Essas experiências palingenéticas, não suficientemente elaboradas pelo ser espiritual, são passíveis de produzir conflitos inconscientes, bloqueios, medos injustificáveis que necessitam de psicoterapia adequada. Muitas vezes, os traumas são de ocorrências desagradáveis ocorridos na infância da atual existência. Crianças vítimas de violência sexual, ou que presenciaram tal violência, potencialmente podem se tornarem adultos com problemas na sua sexualidade.  
Esses dramas tendem a se manifestar no espaço ou na intimidade do casamento. Por não buscarem ajuda especializada, muitos desses casais terminam vivendo um relacionamento angustiante, permeado de queixas e acusações, culminando com a busca por experiências fora do relacionamento. A função da sexualidade continua sendo, em primeira instância, a procriação da espécie, o canal das reencarnações. Todavia, o desenvolvimento psicológico, afetivo e emocional saudável também passa pela dimensão de uma sexualidade bem resolvida. É da natureza humana que o ser se complete com outro ser que lhe corresponda aos anseios emocionais.
Por isso, quando existe a infidelidade no casamento, sobretudo vinculada direta ou indiretamente ao problema da sexualidade, o problema nunca é de um dos cônjuges somente. A mascara da vitimização é muito cômoda, pois exime a pessoa de compartilhar responsabilidades. Qualquer busca por uma solução adequada, deverá romper com esses discursos, uma vez que, na relação, o homem e a mulher são igualmente responsáveis pelo êxito ou o fracasso do casamento.  

Bibliografia

ALMEIDA, Jerri R. MARQUES, Silvano. Família Frente e Verso: Um olhar, a quatro mãos, sobre as relações. Porto Alegre: Editora Francisco Spinelli, 2009.
FRANCO, Divaldo P. (Pelo espírito Joanna de Ângelis) Encontro com a paz e a saúde. Salvador/BA: Leal, 2007. Cap. 8. Reflexões sobre a sexualidade.
FRANCO. Divaldo P. (Pelo espírito Joanna de Ângelis) Adolescência e vida. Salvador/BA: 1997.
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade: sexualidade, amor  & erotismo nas sociedades modernas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1993.
ROBERTO, Gilson Luis. Aquém e além do tempo. Uma visão psicológica e espírita das etapas da vida. Porto Alegre: AGE, 2004. Cap. 4. A sexualidade, a rede comunicante e a difícil arte de educar: alguns recortes da pós-modernidade.
VAINFAS, Ronaldo. Casamento, Amor e Desejo no Ocidente Cristão. Série Princípios. São Paulo: Ática, 1992.

 Obs. O Texto integral desse artigo, sob o título: "Família e Sexualidade: as tranformaçôes na intimidade", foi publicado na Revista "A Reencarnação", número 440.



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