quarta-feira, 22 de junho de 2011

O "HOMO-DEMENS"

A violência tem múltiplas faces: desde as notórias (agressões físicas seguidas ou não de morte, agressões verbais, desrespeito, tóxicos...), até as mais veladas (miséria, descaso com a saúde, desemprego, analfabetismo, preconceitos...)  Fazemos parte de uma civilização que vivencia a crise de sociabilidade. Quotidianamente somos envoltos de notícias que atestam essas realidades, quando não, somos também, seus protagonistas.
As agressões domésticas fazem parte, tristemente, de muitas convivências. Muitas mulheres são vítimas, em suas próprias casas, das hostilidades do marido e, muitas vezes, até dos filhos. Tal situação cria um quadro doloroso e complexo de degeneração da convivialidade familiar.
Da mesma forma, a vida em sociedade torna-se desafiadora diante do avanço da criminalidade e seus efeitos atormentadores. A insegurança e o medo tomam conta dos indivíduos, que buscam proteção de todas as formas, aumentando ainda mais, os casos de fobias e neuroses.
Alguém já disse que o homem é louco-sábio. A crise de violência pela qual passa a sociedade humana é sintoma da carência de sabedoria e a liberação da loucura. O “homo-demens” ainda está muito presente no “homo-sapiens”..  Andamos todos “armados interiormente”, prontos para “reagir” a um simples mal-entendido, gerando uma corrente de ódio avassaladora. Para contrapor esse estado delicado da convivência social, faz-se necessário, entre outras coisas, um profundo investimento na educação dos sentimentos humanos. O enternecimento dos corações será capaz de forjar um novo referencial de civilização, muito mais comprometida com o humano e com a vida.
De qualquer forma, essa longa caminhada começará, quem sabe, no estímulo à não-reação, mas à ação. Pensemos sobre o seguinte caso: O Sr Belarmindo, funcionário público, certo dia recebeu uma advertência disciplinar de seu chefe de repartição. Tomado de indignação, não pôde reagir agressivamente sobre o chefe sob pena de ser demitido. Ao final do expediente, retornando para sua casa, observou que sua esposa não havia preparado totalmente o jantar, como de costume. Foi o suficiente para o Seu Belarmindo irritar-se e, “deslocar” toda aquela raiva contida, que estava sentindo pelo chefe, para sua esposa.
Sua esposa, entretanto, ao invés de reagir às hostilidades do marido, percebeu que algo estava errado com ele. Deixou acalmar os ânimos do esposo, recorrendo à prece e a uma leitura confortadora. No outro dia, ele estava calmo. À noite, chegou em casa alegre e disposto. Ela, então, aproveitou o clima oportuno para conversar com o marido sobre o acontecido no dia anterior. De forma equilibrada e serena, evidenciou os prejuízos para a harmonia doméstica acontecimentos de tal natureza.  Ao invés de reagir ao marido, ela esperou o momento certo para agir construtivamente.
Como é possível construir a paz  reagindo sempre? Mas a não-reação não significa uma postura de passividade diante da violência. Agir com sabedoria significa buscar caminhos coerentes e éticos, para resolver os problemas. São caminhos que nós mesmo necessitamos trilhar, com o esforço pessoal. Não haverá receitas mágicas para resolver nossos problemas, mas o diálogo, entretanto, pode ser um instrumento valioso na mediação de conflitos.
Há uma bela história, que lemos certa vez, sobre um menino que desejava acabar com a violência e construir a paz. Assistindo  TV, ouvia e via notícias ruins, sobre violência, intolerância, miséria. Perguntava a si mesmo qual seria a solução para tantos problemas. “Será que um dia conseguiremos viver em paz?” A paz passou a ser a preocupação de Maurício. Na escola tentava apartar as brigas e aconselhava os amigos ao diálogo e não á violência. Mas quando percebia, estava falando sozinho. Os amigos começavam a se afastar. Um dia, entristecido, percebendo que seus esforços não davam resultado, Maurício resolveu conversar com seu avô, um homem sábio. Explicou-lhe que havia tentado levar a paz para seus amigos mas eles não lhe davam ouvidos. O avô explicou-lhe que a paz é como um grande rio em sua nascente.
A paz também nasce incipiente no íntimo de cada ser. Mais do que falar de paz, é necessário nutrir atitudes pacíficas. “Lembre-se de tê-la primeiro dentro de si. As atitudes convencem mais que as palavras. Tenha paciência com seus colegas, um dia eles também encontrarão a paz dentro deles. Se você ficar muito ansioso, lembre-se da paciência do rio que se forma através da gotinhas pingando.”
Maurício ficou sensibilizado pela profundidade da lição.

domingo, 19 de junho de 2011

E QUANDO O DIRIGENTE NÃO ESTÁ CONSCIENTE DE SEU PAPEL?

 Em resposta ao leitor Ivomar, no mentário que fez sobre a postagem anterior, segue orientação de Kardec ao grupo. Estamos refletindo sobre o tema da convivência, com base no que escrevi em meu livro mais recente: A Convivência na Casa Espírita - Reflexões e apontamentos com base nas intruções de Allan Kardec (Porto Alegre, Editora Francisco Spinelli, 2011)
E quando o dirigente não está consciente de seu papel, permitindo muitas vezes que os problemas se instalem sem nada fazer? Pois bem, nesse caso é necessário que o grupo da diretoria, pelo menos os mais atentos, alertem-no construtivamente. Sobre isso Allan Kardec advertiu no item 337 de O Livro dos Médiuns

(...) terão as pessoas sensatas e bem-intencionadas (...) o direito de crítica, deverão deixar que o mal passe, sem dizerem palavra, e aprovar tudo pelo silêncio? Sem nenhuma dúvida, esse direito lhes assiste; é mesmo um dever que lhes corre. Mas, se boa intenção os anima, eles emitirão suas opiniões (...) com cordialidade, francamente e sem subterfúgios.

Expressar opiniões com fraternidade, manifestar-ser com equilíbrio, conversar sem “subterfúgios”, ouvir com serenidade, filtrar impulsos e sentimentos perturbadores, apoiando-se na humildade, é o caminho eficaz para administrarmos os problemas decorrentes da convivência diária. Ainda sobre a possibilidade de manifestar um senso crítico nas instituições, quer no que tange ao posicionamento de certos dirigentes ou trabalhadores, é oportuno refletirmos sobre a observação de Kardec:

Para criticar é necessário poder opor raciocínio a raciocínio, prova a prova. Será isto possível, sem conhecimento aprofundado do assunto de que se trata?  Que pensaríeis de quem pretendesse criticar um quadro, sem possuir, pelo menos em teoria, as regras do desenho e da pintura? (...) Quanto mais elevada a posição do crítico, quanto mais ele se pôe em evidência, tanto mais seu interesse lhe exige circunspecção, a fim de não vir a receber desmentidos, sempre fáceis de dar a quem quer que fale daquilo que não conhece.



Allan Kardec – O Espiritismo em 1860. Revista Espírita, janeiro de 1860.



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