sábado, 7 de maio de 2011

SABER OUVIR!



Nada mais triste do que em um diálogo, percebemos que a pessoa não está prestando atenção no que estamos falando. Saber ouvir o outro é, antes de tudo, um preceito de educação que necessita ser sublimado.
No mundo contemporâneo, a impaciência de ouvir e a ansiedade para falar evidenciam desajustes e carências enfrentados pelo homem, numa sociedade onde o tempo é cada vez mais escasso e a convivência cada vez menor. Por isso, muitas pessoas procuram psicólogos e religiosos, justamente, porque não encontram alguém que às ouçam – às vezes – mesmo dentro  do próprio lar.
Nesse mundo agitado, os pais necessitam parar para ouvir seus filhos, pois, caso contrário,  não faltaram aqueles que dedicaram seu tempo para dar atenção aos nossos filhos e, logo depois, oferecer as “drogas”. Por isso, manda o bom senso que apaguemos um pouco a televisão, o som, o computador... Evitemos o retiro apreçado para o isolamento de nossos quartos, reservando mais horas para ouvir e conversarmos produtivamente em nosso lares.
Estaremos, dessa forma, investindo seguramente, no fortalecimento dos laços afetivos,  diagnosticando e evitando muitos problemas que poderiam se instalar em nossa convivência.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O HOMEM DIANTE DA MORTE (II)


 A Morte de Si Mesmo

Esta fase, a partir do século XI,  traduz uma atitude em que o homem começa a preocupar-se com a própria morte e com a vida no além.  Entretanto, adverte Ariès: “É preciso deixar claro que não se trata de uma nova atitude que irá substituir a que analisamos anteriormente, mas de modificações sutis que, pouco a pouco, darão um sentido dramático e pessoal a familiaridade tradicional do homem com a morte.” [p. 46]
Com a morte o homem se sujeitava a “uma das grandes leis da espécie”.  A questão do destino coletivo da espécie (morte)  ensejará, também, a preocupação com o destino particular de cada indivíduo. Ocorre que o homem passa a buscar “garantias” para sua vida após a morte,  através de “ritos de absolvição dos pecados”, donativos, missas rezadas após a morte e testamentos para a doação de bens à Igreja e aos pobres.
A questão do destino após a morte, a partir do século XI, tende a se inspirar em Mateus, com a questão  da “separação dos justos e dos injustos”, ou seja, o princípio do “juízo”. Cada um é “julgado” segundo o “balanço de sua vida”,  de acordo com as boas e más ações. Na verdade, inicia-se uma verdadeira “disputa” entre as forças do bem e do mal pela alma do moribundo. Há, naturalmente, toda uma construção do imaginário religioso medieval sobre a “luta cósmica” da dualidade bem-mal. A questão do juízo final ensejará toda uma análise consciencial por parte do moribundo, de forma   a revisar, na inquietude desse momento, seus atos e comportamentos durante a vida. 
Acreditava-se, portanto, que cada pessoa revê sua vida inteira no momento em que morre, podendo – nesse momento – arrepender-se de seus erros. Nesse sentido, surgiu uma crença popular segundo a qual não seria tão importante o viver virtuosamente “porque uma boa morte resgatava todos os erros”.
Para o historiador Philippe Ariès,  “Durante a Segunda metade da Idade Média, do século XII ao século XV, deu-se uma aproximação entre três categorias de representações mentais: as da morte, as do reconhecimento por parte de cada indivíduo de sua própria biografia e as do apego apaixonado às coisas e aos seres possuídos durante a vida.” [p. 58]   O ser humano, nesse período, passou a tomar maior consciência  de si mesmo, muito embora, despertar para um “apego” maior sobre a vida material. Isso identifica uma clara rejeição à morte, provavelmente, devido as incertezas futuras.
 Entre os séculos XIII e XVIII  observa-se que os rituais funerários passam a utilizar o caixão como forma de ocultar o corpo morto. Percebe-se, agora, uma preocupação também com o corpo.  Entre os séculos XVII e XVIII, veremos que o medo  de ser enterrado vivo.  A letargia, doença, de certa forma comum na época, provocava a perda temporária da sensibilidade e do movimento, criando o quadro para, a medicina incipiente da época, de que a pessoa estaria morta. Desse receio vai se originar vários ritos e cerimônias para atrasar o sepultamento, tais como velórios de 48 horas.
Diante do medo da morte aparente, surgem práticas curiosas. Por exemplo: chamava-se o defunto pelo nome três vezes; caso não desse  “sinal de vida”, consideravam-no morto. Não raro,  encontrava-se relatos de mortos que haviam “ressuscitados” a caminho do cemitério.  Nessa época, dizia-se que os médicos eram muito “afoitos” em confirmar a morte do indivíduo e, portanto, dignos de muita “desconfiança”.  Somente no final do século XIX, com os avanços da medicina, a autoridade dos médicos passou a ser melhor reconhecida.
Na Inglaterra, com o receio de ser enterrado vivo, surgiu a ideia de, ao fechar os caixões, amarrar uma tira no pulso do defunto, tira essa que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada num sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento do braço faria o sino tocar. Assim, ele seria  "salvo pelo gongo".
 
Fonte: ARIÈS, Philippe. História da Morte no Ocidente. Trad. Priscila Viana. Rio de Janeiro, Ediouro, 2003.


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