Jerri Almeida
Mas, seria mesmo sua filha?
- És tu mesma, minha filha, que me respondes? Como posso saber que és tu?
A resposta veio rápida:
-Lili
Era um pequeno apelido familiar dado à jovem em sua
infância, mas que não era de conhecimento da médium, considerando-se que há
vários anos, só a chamavam pelo seu nome: Júlia.
Qual a mãe que não conhece realmente seu filho? Esse e
outros dados foram trazidos pela jovem, eram os sinais, a identidade era
evidente. Não podendo dominar a emoção, a mãe explode em lágrimas!
- Mãe! Por que te afliges? Sou feliz, bem feliz: não
sofro mais e te vejo sempre.
O diálogo e o relato prosseguem! Kardec faz sua
observação:
Em presença de semelhantes fatos, quem
ousaria falar do vazio do túmulo, quando a vida futura se nos revela assim tão palpável?
Essa mãe, minada pelo desgosto, experimenta hoje uma felicidade inefável em
poder conversar com a filha; não há mais separação entre elas; suas almas se
confundem e se expandem no seio uma da outra, pela permuta de seus pensamentos.
O sofrimento é inerente ao viver!
A experiência humana é inquietante, por vezes, mergulhada em angústias dos mais
variados matizes. Viver sem significado, é como o indivíduo que tenta buscar
todas as explicações estudando somente a folha, ignorando por completo a
árvore. A existência material é, metaforicamente, a “folha”. A vida, na
perspectiva espiritual, a árvore. Olhar apenas a folha é angustiante. É uma
busca melancólica, torturante, Indiferente e fria. Como compreender os
processos químicos que ocorrem na folha, sem temos a sapiência de estudarmos a
árvore que a originou?
Os críticos do espiritualismo
asseveram que o homem criou a metafísica para digerir melhor a ideia de sua
própria finitude. Os que assim se manifestam, imaginam reter a verdade em suas
crenças filosóficas ou científicas, também limitadas pela condição humana.
Viver com vida, com confiança nas
disposições humanas e numa ordem que pensou inteligentemente a natureza, pode
ser uma perspectiva para se viver esperançosamente. Kardec ofereceu uma lente
de reflexão, para pautarmos nosso olhar. O desgosto pela vida poderá, assim,
simbolizar ou representar, uma fragilidade do olhar.
A condição humana é um constante conviver
com “espaços vazios”, ou seja, com interrogações e dúvidas inerentes a
incompletude relativa do homem, em busca da perfectibilidade relativa do
espírito. Sendo a existência, como defendem alguns, algo de incerto e inseguro,
sem garantias de sucesso, a fé é uma possibilidade radical, para a manutenção
dos sonhos possíveis.
De fato, o espiritismo não afasta
o sujeito da existência, nem mesmo a critica. Entretanto, percebe a vida numa
perspectiva de serenidade, com todos os seus desafios, na sua estrutura
vivencial e reencarnatória. O ser humano se completa na existência e se
plenifica na vida. Essa vida, quanto mais rica de significados, mais complexa
se torna, no sentido de permitir um olhar para diferentes possibilidades. Uma
espécie de pensamento alargado.
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