Jerri Almeida
A fé não exclui a
dúvida! No espiritismo, a dúvida dialoga filosoficamente com a fé. O argumento
da “verdade absoluta”, em qualquer área do conhecimento, é um “erro absoluto”.
No exercício intelectual, na busca do conhecimento e da construção da fé, não se
deve desconsiderar os limites naturais de cada um, e a possibilidade de
autoengano. Certezas e dúvidas fazem parte desse percurso!
Léon Denis, em sua
análise sobre o assunto, adverte: “Ninguém adquire essa fé sem ter passado pelas tribulações da dúvida, sem
ter padecido as angústias (...). Muitos param em esmorecida indecisão e flutuam
longo tempo entre opostas correntezas.”[1]
A dúvida pode ser um instrumento, como foi
para Descartes na filosofia, capaz de conduzir para a análise e rejeição de
certas opiniões ou conhecimentos instituídos pelas tradições. A dúvida parte de
uma incerteza sobre determinado assunto. Se esse assunto diz respeito às
questões religiosas e existenciais, então, essa “dúvida” poderá carregar certas
angústias.
Nesse caso, poderá ser considerada uma “dúvida
natural”, quando vem acompanhando o indivíduo em sua caminhada existencial, ou
uma “dúvida despertada”, quando gerada por uma situação externa. Por exemplo, o
defrontar-se com a morte de uma pessoa querida, poderá despertar no sujeito
dúvidas sobre a existência de Deus e o sentido da vida. O evento “morte”, por
vezes gerador de “angústias”, torna-se capaz e desencadear dúvidas.
Dúvidas e angústias poderão motivar um
processo de busca por respostas mais consistentes. Nessa jornada pessoal,
percorrerá o sujeito inúmeras possibilidades explicativas, sintonizando-se com
aquela que melhor apaziguar suas angústias.
Sócrates, há seu tempo, interrogando o oráculo
de Delfos, parte da dúvida para alcançar,
através do questionamento, a certeza e a verdade. Quando se duvida,
portanto, é para se conhecer com mais elevado grau de certeza. Certezas
administram melhor as angústias! Mas nem sempre podemos ter certezas de tudo!
O desgosto da vida gera uma enorme angústia no
indivíduo. Em situações extremas, conduz ao suicídio. O suicídio é, portanto,
uma tentativa de fuga, frustrada, das angústias e incertezas da alma. Kardec
indagou[2] os espíritos: De onde nasce
o desgosto da vida que se apodera de certos indivíduos? Resposta direta: Da ociosidade, da falta de
fé e da saciedade.
A “falta de fé” produz na alma uma espécie de
desencantamento consigo e com o mundo! O indivíduo vê a vida acinzentada, sem
sonhos, sem esperanças, sem ideais. Uma tormenta qualquer se abateu sobre a
vida de alguém, desmanchando certezas construídas sobre areia de praia. A fé,
diante da impossibilidade de superação das dificuldades no presente imediato,
estimula o reerguimento do sujeito, dando-lhe coragem, determinação, confiança
e esperança para prosseguir sua jornada pelas veredas da vida.
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