Jerri Almeida
Ele tornou-se, em sua
época, um dos maiores críticos dos desvirtuamentos e desvio de rota que o
cristianismo sofria. Uma voz, por vezes solitária, irrompia no interior da
Universidade de Praga, onde lecionava e tornara-se reitor. Nos sermões
proferidos, conclamava os ouvintes a praticar as virtudes dos apóstolos, dos
pobres e dos iluminados pelos ensinamentos de Jesus. Referimo-nos ao professor João Huss
(1369-1415), nascido no antigo reino da Boêmia, região da extinta
Tchecoslováquia. No século XIV, a Boêmia era um dos reinos que compunham o
Sacro Império Romano-Germânico. Conhecedor profundo dos textos bíblicos,
formado em teologia e professor num importante centro intelectual da Europa,
João Huss denunciava a farsa dos milagres e da corrupção pelo poder entre os
religiosos. Insistia, no entanto, na
necessidade de se procurar o Cristo dos Evangelhos, um Cristo muito diferente
daquele divulgado pela Igreja.
No ano de 1414, Huss foi
enviado pelo imperador Segismundo, do Sacro Império, para o Concílio de
Constança, onde deveria se defender das acusações de heresia contra a Igreja.
Deveria, na verdade, provar sua inocência renunciando as suas ideias, na frente
dos bispos e cardeais presentes no concílio. Ele, todavia, não voltou atrás,
mantendo suas ideias e críticas ao sistema teológico de sua época. Condenado
por heresia, foi morto na fogueira em praça pública.
Conforme nos informa o
historiador José Rivair Macedo, (MACEDO, 1996, p. 74-75) a execução de João
Huss tornou-se um estopim de uma revolução não somente contra o imperador, mas
também contra as autoridades eclesiásticas. Os hussitas, como ficaram
conhecidos os seguidores de Huss, rejeitavam os dogmas sobre o purgatório,
desprezavam os rituais e não acreditavam nas imagens, além de postularem um
cristianismo mais límpido e sem pena de morte. No entanto, o movimento também
adentrou para posturas fundamentalistas de ódio, distanciando-se daquilo que
pregava.
No ocidente, ao longo da
história surgiram muitos pensadores religiosos que buscaram aproximar-se do pensamento de Jesus na sua
essência. Disto implicaria uma reformulação sobre vários aspectos da ideia de
fé, sobretudo, no que tange a uma fé destituída de medo, mais livre e associada
à natureza racional humana. A fé continuava, no entanto, a representar
“obediência absoluta em Deus” e ao seu representante na Terra. A “conversão”
tornou-se o discurso utilizado, de forma mais “branda”, de adesão ao dogmatismo
e, por recompensa, para salvação na vida
pós-morte.
O estudo na natureza,
sobretudo a partir do século XVI, constituía de fato uma tentativa nova para
compreender Deus. Para Robert Fludd,
membro do Royal College of Physicians,
o conhecimento do microcosmo, ou seja, do corpo humano, poderia revelar melhor
a própria estrutura do Universo, acabando por aproximar mais o homem de Deus.
Para ele, quanto maior o nosso conhecimento sobre o Universo, mais avançamos no
conhecimento de nós mesmos. (ELIADE, 2011, Vol. 3, p. 242) O cientista parecia
estar mais próximo de Jesus do que o teólogo.
Referências Bibliográficas
BLAINEY,
Geoffrey. Uma Breve História do
Cristianismo. São Paulo: Editora Fundamento, 2012.
DELUMEAU, Jaan. História do Medo no Ocidente – 1300-1800.
Tradução Maria Lucia Machado. São Paulo: Cia das Letras, 2009.
ELIADE,
Mircea. História das Crenças e da Ideias
Religiosas. Vol.3, Trad. Roberto Cortez de Lacerda. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2011.
MACEDO, José Rivair. Religiosidade e Messianismo na Idade Média.
São Paulo: Moderna, 1996.
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