Jerri Almeida
A emoção de sofrimento, por ocasião de
uma perda, representa um estado natural da condição humana. Convém lembrar,
entretanto, que tal estado emocional terá uma permanência breve ou demasiada
conforme o significado que atribuímos ao
sentido da própria vida, e ao nível de afeto construído com a pessoa que morre.
Naturalmente, quem nutre uma visão religiosa, por certo, encontrará mais
reforço íntimo para compreender que a vida é feita de experiências e que,
delas, fazem parte as perdas e as
posses. Com isso não queremos considerar que a religião removerá os sofrimentos
das perdas, mas que contribuirá para que essa dor não nos paralisem
demasiadamente num estado mental negativista e desolador.
Refletir, de forma saudável, sobre a
possibilidade das perdas e da transitoriedade da existência física, já é uma medida interessante de adequação do
nosso mundo emocional às vicissitudes e agruras do cotidiano. Uma doença grave,
um acidente fatal ou qualquer outro fato que possamos imaginar, perturbador
para a vida, nossa ou de alguém com quem convivemos, muitas vezes geram tal
gama de sofrimentos que o indivíduo, fragilizado interiormente, mergulha num
vazio existencial, desnorteado...
Foi muito comum no século XIX o “luto
histérico”, onde os parentes resistiam em aceitar a morte do outro,
entregando-se à rebeldia e a revolta contra Deus em verdadeiras manifestações
de histeria coletiva. É o sofrimento que gera sofrimento. Para evitar-se um
sofrimento maior, naqueles momentos em que o “mundo parece desabar sobre nós”,
o papel da prece, certamente, terá uma função fundamental: fortalecer o nossa vida interior, que é o espaço
da coragem, da confiança, do equilíbrio... Entretanto, não podemos esquecer que
há coisas que somente o tempo poderá realizar pois, perder dói e não há como
não sofrer.
O desafio será evitar que o
sofrimento conduza ao desequilíbrio emocional, pois, nesse caso, suas
derivações tenderão a desestruturar a vida afetiva, familiar, profissional,
biológica... Administrar tal sentimento é imperiosa tarefa de todos nós.
Vivenciar somente a dor que a perda causou sem movimentar recursos para o
processo de readaptação, é insistir no sofrimento.
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