Jerri Almeida
Um dos assuntos,
seguramente, mais discutidos e inquietantes do pensamento ocidental, o amor vem
alimentando o imaginário humano há milênios. Desde Platão, os filósofos
refletem sobre o significado e a abrangência do amor, seus limites e
possibilidades em oferecer uma vida boa e virtuosa. Em seu livro O Banquete, Platão apresenta diversos
oradores discursando sobre o Amor, ou o que considera: “um discurso em louvor a
Eros”.
Entre eles está Sócrates, que usa
um mito para explicar o Amor: Eros é descendente de Poros (Riqueza) e de Penia
(Pobreza). “Pela influência da natureza que recebeu do pai, Eros dirige a
atenção para tudo que é belo e gracioso”. “É capaz de desabrochar e de viver,
morrer e ressuscitar no mesmo dia. Come e bebe, dá e se derrama, sem nunca estar
rico ou pobre”. Nesse sentido, a questão do Amor não se resume, tão somente, à
procura do outro, como afirmou Aristófanes, mas na ânsia de uma realização mais
profunda: o desejo de procriação do belo.
Dessa forma, Platão julga que o
Amor é um desejo cuja principal função é criar a virtude (e “a mais alta de
todas as virtudes é o saber”) através da beleza. O Amor, portanto, seria toda aspiração ou
impulso, em geral, na direção das coisas boas, do bem e da felicidade.
O filósofo alemão Erich Fromm, em seu
magnifico livro: A Arte de Amar,
afirmava que: “O amor genuíno é uma expressão de produtividade e implica
cuidado, respeito, responsabilidade e conhecimento”. Não seria o amor, a
própria arte de viver? Mas seria ele incondicional? Alguns pensadores o associam a sexualidade e
ao prazer, outros, às virtudes da alma, outros ainda, como é o caso do filósofo
Simon May, o definem como “o enlevo que sentimos por pessoas e coisas que
inspiram em nos a esperança de uma fundação indestrutível para nossa vida.”
Estudado em várias áreas do
conhecimento, o certo é que o amor ainda é um belo desconhecido. Num mundo em
crise de referenciais afirmativos da vida, não seria o amor uma resposta para a
humanidade da humanidade? Nesse sentido, como situar a paradoxal afirmativa do
“matou por amor”? Onde a fronteira entre
amor e ódio? Como situar o amor no plano das relações familiares, quase sempre
permeadas de conflitos?
Dos célebres romances como Romeu e
Julieta, Tristão e Isolda, o amor romântico se tornou, para usarmos uma
expressão do sociólogo polonês Zymunt Bauman, por demais “líquido”,
descartável, numa sociedade profundamente consumista. Seria esse, no entanto, o
desfecho trágico do amor no mundo contemporâneo?
A filosofia espírita oferece vários
horizontes de reflexão sobre o assunto. Sem restringi-lo, a esse ou aquele
aspecto, o espiritismo lança o tema numa nova ordem de fatores, associando-o a
Lei Natural da vida e, portanto, ao processo de evolução do espírito. Amar é um
imperativo do progresso moral, é o lançar-se na existência abrindo, como bem
alertou Herculano Pires, as perspectivas do altruísmo.
Fonte: O Semeador, outubro de 2014. Editorial (Órgão de divulgação da Sociedade Espírita Amor e Caridade - Osório-RS)
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