segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

KARDEC, CODIFICADOR?

Jerri Almeida

Matéria publicada no Jornal O courrier de Paris, de 11 de junho de 1857, comentando o lançamento de O Livro dos Espíritos pelo editor Dentu, assim se refere:

O corpo da obra, diz o senhor Allan Kardec, deve ser reivindicado, inteiramente, pelos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas: Estas últimas são, algumas vezes, verdadeiramente sublimes, isso não nos surpreende. Mas não foi preciso um grande mérito a quem soube provocá-las? (Grifos meus)

Revista Espírita. Introdução. (O Courrier de Paris, de 11 de junho de 1857). Março de 1858.

O mérito de Allan Kardec, sem nenhum ufanismo de nossa parte, é inconteste, seja na primeira etapa de investigação dos fenômenos de efeitos físicos e inteligentes, ou na elaboração, posteriormente, da estrutura teórica da doutrina e de suas obras.
Entendemos por “obra kardequiana”, o conjunto de todos os textos de Allan Kardec, escritos diretamente, ou ditado pelos espíritos, mas coordenados e revisados por ele. Dificilmente alguém compreenderá o Espiritismo, sem compreender o pensamento de seu fundador. Para compreendê-lo é necessário o estudo de sua vasta obra a qual incluímos como já mencionado, o ensino dos espíritos por ele analisado, comparado e selecionado. Vale lembrarmos que Kardec constatou a realidade objetiva do fato espírita, partindo da investigação do fenômeno mediúnico,  durante quinze anos, com acurado senso crítico e rigoroso espírito científico. Em suas pesquisas com diversos médiuns, em diferentes locais, observou o teor da linguagem dos espíritos comunicantes, bem como a coerência dessas comunicações e a sua concordância universal.
Tais comunicações eram submetidas a uma análise comparativa para que se evidenciasse, ou não, o consenso das informações trazidas pelos espíritos. Um mesmo problema filosófico, moral ou científico era proposto como indagação, para diferentes espíritos, através de inúmeros médiuns. Qualquer informação que suscitasse dúvidas, Kardec submetia a novas indagações, por meio de outros médiuns, pois não admitia uma informação ou ensinamento sem passar por rigorosa análise critica e pelo crivo da universalidade do ensino. Somente após sofrer esse rigoroso controle, é que as informações recebidas mediunicamente passavam a constituir um princípio doutrinário aceito.

Se pudermos usar o vocábulo “codificar” para essa atividade, tudo bem! Pessoalmente, penso que a palavra não abarca a complexidade do trabalho de Kardec. Ainda não encontrei quem teria iniciado chamar Kardec de “codificador”, pois ele próprio jamais se autodenominou assim. Suspeito que tenha sido coisa de brasileiro, para diminuir a importância do trabalho de Kardec, colocando-o meramente, como uma espécie de “secretário” dos espíritos. 

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