Jerri Almeida
Matéria publicada no Jornal O courrier de Paris, de 11 de junho de 1857, comentando o
lançamento de O Livro dos Espíritos
pelo editor Dentu, assim se refere:
O corpo da obra,
diz o senhor Allan Kardec, deve ser reivindicado, inteiramente, pelos Espíritos
que o ditaram. Está admiravelmente classificado por perguntas e por respostas:
Estas últimas são, algumas vezes, verdadeiramente sublimes, isso não nos
surpreende. Mas não foi preciso um
grande mérito a quem soube provocá-las? (Grifos meus)
Revista Espírita. Introdução. (O Courrier de Paris, de
11 de junho de 1857). Março de 1858.
O mérito de Allan Kardec, sem nenhum ufanismo de
nossa parte, é inconteste, seja na primeira etapa de investigação dos fenômenos
de efeitos físicos e inteligentes, ou na elaboração, posteriormente, da
estrutura teórica da doutrina e de suas obras.
Entendemos por “obra kardequiana”, o conjunto de
todos os textos de Allan Kardec, escritos diretamente, ou ditado pelos
espíritos, mas coordenados e revisados por ele. Dificilmente alguém
compreenderá o Espiritismo, sem compreender o pensamento de seu fundador. Para
compreendê-lo é necessário o estudo de sua vasta obra a qual incluímos como já
mencionado, o ensino dos espíritos por ele analisado, comparado e selecionado. Vale
lembrarmos que Kardec constatou a realidade objetiva do fato espírita, partindo
da investigação do fenômeno mediúnico, durante quinze anos, com acurado senso crítico
e rigoroso espírito científico. Em suas pesquisas com diversos médiuns, em
diferentes locais, observou o teor da linguagem dos espíritos comunicantes, bem
como a coerência dessas comunicações e a sua concordância universal.
Tais comunicações eram submetidas a uma análise
comparativa para que se evidenciasse, ou não, o consenso das informações
trazidas pelos espíritos. Um mesmo problema filosófico, moral ou científico era
proposto como indagação, para diferentes espíritos, através de inúmeros
médiuns. Qualquer informação que suscitasse dúvidas, Kardec submetia a novas
indagações, por meio de outros médiuns, pois não admitia uma informação ou
ensinamento sem passar por rigorosa análise critica e pelo crivo da
universalidade do ensino. Somente após sofrer esse rigoroso controle, é que as
informações recebidas mediunicamente passavam a constituir um princípio
doutrinário aceito.
Se pudermos usar o vocábulo “codificar” para essa
atividade, tudo bem! Pessoalmente, penso que a palavra não abarca a
complexidade do trabalho de Kardec. Ainda não encontrei quem teria iniciado
chamar Kardec de “codificador”, pois ele próprio jamais se autodenominou assim.
Suspeito que tenha sido coisa de brasileiro, para diminuir a importância do
trabalho de Kardec, colocando-o meramente, como uma espécie de “secretário” dos
espíritos.
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