Quando o
senhor Brown chegou ao hospital, em uma pequena cidade da Irlanda, recebeu a
notícia de que sua esposa havia dado à luz a um menino. Corria o ano de 1932. O
casal Brown, como seria de se esperar, havia idealizado um filho dentro dos
padrões “normais”. Criaram, certamente, expectativas de estarem gerando uma
criança sadia, que seguiria um desenvolvimento natural, repleto de situações
alegres. Ele iria mamar, engatinhar, aprender os primeiros passos, balbuciar
pequenas sílabas, falar “mamãe” e “papai”, entrar para a escola, se formar,
etc.
Mas, naquele
dia em que chegou ao hospital, o senhor Brown foi tomado de um enorme choque ao
ouvir dos médicos que seu filho nascera com uma paralisia cerebral que lhe
tiraria todos os movimentos do corpo e que, portanto, com sorte, seu filho iria
ser um pouco mais que um vegetal. Nesse momento inesperado, diante da negativa
de um filho idealizado, o pai, confuso, deixa-se tomar por um sentimento de
fracasso por gerar um filho deficiente.
O menino, que
receberia o nome de Christy Brown, possuía movimentos somente em seu pé
esquerdo. Durante sua infância e juventude, Christy viveu em uma casa simples
com sua família. Sua mãe cuidava, também, de seus outros filhos e se dedicava
às atividades domésticas, além de passar para os filhos uma educação religiosa
com base em valores éticos. O pai, de temperamento autoritário, vivia
trabalhando para sustentar o lar, conforme os padrões familiares da época.
Christy
observava tudo em sua volta, buscando, apesar de suas dificuldades, interagir
com a família. Mas a dificuldade de comunicação era enorme devido ao
comprometimento motor e a desarmonia dos músculos da face, que obstaculizavam a
articulação da fala. Sua postura e sua mobilidade enfrentavam igual
complicação, Dessa forma, após algum tempo, Christy ganhou um carrinho de mão
para ser transportado, já que sua família não possuía recursos para comprar uma
cadeira de rodas.
Movido por um
grande amor pela vida, Christy Brown, ao longo do tempo, passou a demonstrar
sua inteligência e sensibilidade, quer jogando futebol com seus amigos na rua,
onde ficava deitado na calçada buscando com seu pé atingir a bola, ou em casa,
através de olhares afetuosos para sua família. Dessa forma, vivia com um
semblante de quem não desanimava diante da existência de desafios.
Talvez um dos
momentos mais marcantes da vida de Christy, foi quando ele, ainda criança,
segurou, com grande esforço, um giz entre os dedos do pé esquerdo e conseguiu
escrever a palavra “mamãe”, diante do espanto e surpresa de toda a família.
Naquela emoção que envolveu o ambiente familiar, o senhor Brown, seu pai, pega
o menino nos ombros e o leva até o bar, apresentando-o a seus amigos, não como
um inválido, mas como um “gênio”.
Movimentando
somente seu “pé esquerdo”, Christy descobriu que podia pintar e passou a
produzir quadros. Descobriu, também, a leitura e a escrita, e tornou-se
escritor. Sua primeira obra foi a história de sua própria vida. Em 1959,
conheceu Mary Carr, com quem terminou se casando tempos depois. O marcante em
sua história não é, como alguns poderiam pensar, suas deficiências, mas a sua
determinação em superá-las, não se permitindo desanimar ou deprimir.
A história de
Christy Brown foi para o cinema através do filme “Meu pé esquerdo”, do diretor
Daniel Day Lewis. Sua vida é uma lição de sabedoria, vivenciada em face aos
desafios das limitações impostas por um corpo frágil. Christy era, no entanto,
um espírito determinado, com grande potencial interior e forca de vida para ser
feliz.
Do livro: O Desafio da Felicidade: em um mundo em
transformação. Jerri Almeida. Ed. Francisco Spinelli, 2007.
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