sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Uma história emocionante!



Quando o senhor Brown chegou ao hospital, em uma pequena cidade da Irlanda, recebeu a notícia de que sua esposa havia dado à luz a um menino. Corria o ano de 1932. O casal Brown, como seria de se esperar, havia idealizado um filho dentro dos padrões “normais”. Criaram, certamente, expectativas de estarem gerando uma criança sadia, que seguiria um desenvolvimento natural, repleto de situações alegres. Ele iria mamar, engatinhar, aprender os primeiros passos, balbuciar pequenas sílabas, falar “mamãe” e “papai”, entrar para a escola, se formar, etc.
Mas, naquele dia em que chegou ao hospital, o senhor Brown foi tomado de um enorme choque ao ouvir dos médicos que seu filho nascera com uma paralisia cerebral que lhe tiraria todos os movimentos do corpo e que, portanto, com sorte, seu filho iria ser um pouco mais que um vegetal. Nesse momento inesperado, diante da negativa de um filho idealizado, o pai, confuso, deixa-se tomar por um sentimento de fracasso por gerar um filho deficiente.
O menino, que receberia o nome de Christy Brown, possuía movimentos somente em seu pé esquerdo. Durante sua infância e juventude, Christy viveu em uma casa simples com sua família. Sua mãe cuidava, também, de seus outros filhos e se dedicava às atividades domésticas, além de passar para os filhos uma educação religiosa com base em valores éticos. O pai, de temperamento autoritário, vivia trabalhando para sustentar o lar, conforme os padrões familiares da época.
Christy observava tudo em sua volta, buscando, apesar de suas dificuldades, interagir com a família. Mas a dificuldade de comunicação era enorme devido ao comprometimento motor e a desarmonia dos músculos da face, que obstaculizavam a articulação da fala. Sua postura e sua mobilidade enfrentavam igual complicação, Dessa forma, após algum tempo, Christy ganhou um carrinho de mão para ser transportado, já que sua família não possuía recursos para comprar uma cadeira de rodas.
Movido por um grande amor pela vida, Christy Brown, ao longo do tempo, passou a demonstrar sua inteligência e sensibilidade, quer jogando futebol com seus amigos na rua, onde ficava deitado na calçada buscando com seu pé atingir a bola, ou em casa, através de olhares afetuosos para sua família. Dessa forma, vivia com um semblante de quem não desanimava diante da existência de desafios.
Talvez um dos momentos mais marcantes da vida de Christy, foi quando ele, ainda criança, segurou, com grande esforço, um giz entre os dedos do pé esquerdo e conseguiu escrever a palavra “mamãe”, diante do espanto e surpresa de toda a família. Naquela emoção que envolveu o ambiente familiar, o senhor Brown, seu pai, pega o menino nos ombros e o leva até o bar, apresentando-o a seus amigos, não como um inválido, mas como um “gênio”.
Movimentando somente seu “pé esquerdo”, Christy descobriu que podia pintar e passou a produzir quadros. Descobriu, também, a leitura e a escrita, e tornou-se escritor. Sua primeira obra foi a história de sua própria vida. Em 1959, conheceu Mary Carr, com quem terminou se casando tempos depois. O marcante em sua história não é, como alguns poderiam pensar, suas deficiências, mas a sua determinação em superá-las, não se permitindo desanimar ou deprimir.
A história de Christy Brown foi para o cinema através do filme “Meu pé esquerdo”, do diretor Daniel Day Lewis. Sua vida é uma lição de sabedoria, vivenciada em face aos desafios das limitações impostas por um corpo frágil. Christy era, no entanto, um espírito determinado, com grande potencial interior e forca de vida para ser feliz.

Do livro: O Desafio da Felicidade: em um mundo em transformação. Jerri Almeida. Ed. Francisco Spinelli, 2007.

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