Jerri Almeida
Os historiadores do cristianismo empenham-se por encontrar os indícios
materiais que comprovariam a existência do homem Jesus. Além da Bíblia,
encontramos outras poucas referências a Jesus em autores como Flavius Josephus,
um historiador judeu do primeiro século. Em sua obra: Antiguidades , ele afirma: “Havia por aquele tempo Jesus, um homem
sábio, se for direito chamá-lo de homem...” [1]
No século II, Tácito, um famoso historiador romano também se refere a:
“...Cristo, que o procurador Pôncios Pilatos entregou ao suplício.” [2] Seria
desnecessário enumerar outras referências. O fato é que o cristianismo ganhou
cada vez mais espaço dentro do declinante império romano, passando, também, a
sofrer uma mistura cultural, quase inevitável.
No ano 313 d.C. o imperador Constantino, por meio do documento denominado
Edito de Milão, reconhece o
cristianismo como religião e libera suas manifestações no interior do império.
Era uma forma de conseguir apoio dos cristãos, cada vez mais numerosos, para um
império cada vez mais imerso em crises. No ano 380, o imperador Teodósio aderiu
ao cristianismo e em 391 baixou uma lei proibindo a prática de todos os cultos
considerados pagãos ou politeístas. Nesse sentido, o cristianismo torna-se a
religião oficial do estado romano, todavia, apesar da proibição, as crenças
pagãs jamais desapareceram totalmente. Passa ocorrer, a partir daí uma
“transfusão” de elementos culturais-religiosos externos para o interior do
cristianismo, deturpando sua simplicidade original.
Dessa forma, a data que hoje
conhecemos como atribuída ao Natal, foi definida no ano 336 d.C. O 25 de
dezembro, oficializado no século IV,
originou as festividades do nascimento de Jesus. Foi uma transposição
cultural às comemorações, na mesma data, do nascimento de Mitra, o deus-sol de
origem Persa.[3] O dia da
semana que se dedicava, tradicionalmente, ao culto ao “Sol invencível”, chamado
na cultura pagã de: “dia do sol”, passou a se chamar “domingo”, o “dia do
Senhor”. [4] Para
o historiador Ernest Renan, Jesus teria nascido por volta do ano 750 da data da
fundação de Roma, na cidade de Nazaré, uma pequena cidade da Galiléia.[5] O
25 de dezembro é, portanto, uma data simbólica, no entanto, impregnada de grande
significado espiritual.
O Natal aí está, quer seja nos seus aspectos simbólicos, econômicos, ou
no sentimento que impele o ser humano a uma profunda revisão de seus valores. Na
crise de civilização que a humanidade atravessa a proposta cristã – fundada na
ética do amor – é muito mais profunda do que as meras apelações comerciais
construídas pela sociedade capitalista.
Na verdade, podemos identificar na mensagem natalina um verdadeiro
desafio à renovação interior. Muito embora sem nada escrever, Jesus Cristo
continua influenciando milhões de pessoas, em todo o mundo. Longe de estarem superados, os seus ensinos
morais representam um admirável repositório de sabedoria capaz de promover uma
convivência, entre indivíduos e povos mais pacífica e fraterna. Em O
Livro dos Espíritos,
Allan Kardec na questão 625 indagando os benfeitores espirituais sobre quem
seria o Ser mais notável que Deus enviou à Terra para nos servir de modelo e
guia, obteve como resposta: “Jesus”.
Figura paradigmática, Jesus é o homem mais falado da história. Sobre
nenhum outro personagem se escreveu tantos livros, seja para desvendar sua
personalidade, para interpretar seus ensinos ou para mencionar seus fatos
notáveis. Apesar disso, o jornalista e psicólogo espanhol Juan Árias chegou a
afirmar sobre Jesus: “Esse grande desconhecido”. Antes dele, no entanto, o historiador francês
Ernest Renan já havia dito que Jesus era: “Um homem incomparável”.
O Natal não deve ser visto nos acanhados limites dos rituais religiosos
ou nos festejos para troca de presentes. A proposta apresenta por Jesus nesses
vinte e um séculos de cristianismo é profundamente inovadora, repercutindo numa
nova ética para a vida. O valor da Boa Nova, mensagem de amor trazida por ele,
é de alta transcendência para o homem.
Nos dias atuais, marcados por tanta rigidez dos sentimentos, de violência
e de desigualdades sociais marcantes caracterizando uma sociedade que atingiu
alto nível de desenvolvimento tecnológico, mas que ainda se encontra
encarcerada nos grilhões da indiferença, a mensagem do Cristo é emblemática
para a edificação de um novo ser humano.
O verdadeiro sentido do Natal,
portanto, se dará quando Jesus, e tudo aquilo que ele representa nascer
efetivamente na Terra. Dessa vez, não mais em uma tosca cabana, mas no coração
do próprio ser humano.
Notas
[1]
CARREIRO, Marcelo. Contemporizando Cristo: Um
estudo histórico e Documental do Cristianismo Primitivo. Tese de Doutorado.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. 1999. Capítulo V: Fontes Históricas. Pág. 62 – 78.
[2]
Idem.
[3]
MACEDO, José Rivair. Religiosidade e
Messianismo na Idade Média. São Paulo: Moderna, 2006. Pág. 12-13.
[4]
Idem. Pág. 13.
[5]
RENAN, Ernest. Vida de Jesus. São
Paulo: Martin Claret, 2003. Capítulo 2, Pág. 99-100.
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