Nos últimos dias temos acompanhado os alarmantes casos, que se proliferam, de violência cometida contra mulheres. Os agentes agressores, não são estranhos, desconhecidos, assaltantes, mas seus próprios maridos ou companheiros que, diante da crise conjugal, não aceitaram a ruptura da relação protagonizada pelas esposas.
O que vemos acontecer são processos psico-patológicos, doentios, onde (no caso o homem) não aceita perder seu objeto de poder e de desejo. Na história psíquica dessa criatura, certamente em muitos casos, encontraremos um indivíduo despreparado emocionalmente para a “frustração”. Jamais aguentariam ser “abandonados”, tendo que viver com uma idéia de “rejeição”.
Há um misto de orgulho exacerbado, possessividade, ciúme obsessivo, baixa autoestima, o que resulta num complexo quadro psíquico de autoafirmação quando se está no controle sobre o outro, nesse caso, a esposa. Diante da separação, que representa um verdadeiro colapso em toda essa estrutura psico-emocional, o desarranjo mental torna-se ainda maior, conduzindo o sujeito a atitudes estremas como matar e matar-se.
O que para outros indivíduos seria uma situação difícil, mas superável, no caso da separação conjugal para esses sujeitos, torna-se verdadeira obsessão a vingança pela idéia de rejeição quando suas tentativas de recompor o vínculo se tornam, igualmente, frustradas.
Possivelmente, esses sujeitos enquanto crianças, durante o desenvolvimento psico-afetivo, não aprenderam, não foram educados para enfrentar um sentimento fundamental da espécie humana: a frustração. Muitos foram mimados desde o berço, eram tratados como “coitadinhos”! Acreditamos que isso explica em parte, mas não totalmente, esses comportamentos tão agressivos.
No verso desses casos, sob o entendimento espiritual, encontraremos criaturas que ainda não educaram-se adequadamente para as experiências da vida. Vivem na órbita de seus conflitos e de seu personalismo. Se não fosse o problema conjugal, encontrariam outras criaturas para manifestar sua rebeldia: no trânsito, na via pública, no setor de trabalho. No drama espiritual dessas criaturas, está presente o sofrimento da alma, que as acompanha pelas veredas dos séculos, fruto de suas atitudes doentias.
Abrem campo para dolorosas e complexas obsessões espirituais, protagonizadas por suas vítimas, que, não raras vezes, se tornam também algozes, cobrando justiça pelas vias equivocadas da vingança. Tais eventos trágicos, devem pelo menos, gerar na sociedade uma reflexão urgente sobre os relacionamentos apressados, sem que se conheça um pouco mais o outro, o seu temperamento, para se decidir efetivar um vínculo conjugal em bases mais sólidas.
Apesar das conquistas da legislação de proteção à mulher, esses casos deixam claro que, na prática, a realidade ainda é muito deficitária. Faltam instrumentos reais de segurança que permitam, quando da sentença judicial, manter a mulher efetivamente protegida. Quando o judiciário determina que o marido ou agressor não possa se aproximar num raio de 300 metros da vítima, isso parece um tanto infantil, pois sem a devida estrutura, quem evitará tal ocorrência? Apesar das leis, o Estado falha toda vez que não provê efetivamente a segurança dos indivíduos, seja nesses ou em outros casos. Sim, a questão é complexa e faltam recursos! Enquanto os “recursos” forem desviados de suas finalidades pela corrupção, o Estado manter sua inoperância, e os indivíduos sua agressividade, veremos infelizmente esses casos trágicos se multiplicarem.
Vivemos um contexto delicado: a vida é a todo instante banalizada, o império dos sentidos parece prevalecer sobre os sentimentos nobres, a crise ética se alarga, e tudo isso evidencia a urgente necessidade do revitalizar dos valores nobres afirmativos da vida. A cada um de nós, compete diariamente o desafio de estruturarmos, em nosso mundo íntimo, o imperativo da paz, educando nossos impulsos agressivos, para vivermos com saúde emocional e equilíbrio. O amor é um sentimento nobre que jamais sufoca o outro, nem mesmo age possessivamente. O amor agrega, cria vínculos saudáveis, respeitando o espaço e a subjetividade de cada um na relação.
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