Afirmava Rousseau que o “primeiro sentimento do homem foi o da sua existência; o primeiro cuidado, o da sua conservação.” Todavia, a fome e outros apetites fizeram-no, experimentar, alternadamente, diversas maneiras de existir, e houve um desejo instintivo que o convidou a perpetuar a espécie. Tal foi a condição do homem no começo da trajetória evolutiva na Terra.
Vivendo no campo das sensações e dominado pelos instintos - pois para capturar um animal era necessário uma boa dose de agressividade - o homem aproveitava as possibilidades que a natureza lhe oferecia. Cedo, apresentaram-se dificuldades e foi preciso aprender a vencê-las: a altura das árvores que o impedia de alcançar os frutos, os animais que dele buscavam nutrir-se, as forças inóspitas do clima. Tudo o obrigava a exercitar o corpo e o intelecto. Foi necessário fazer-se ágil, rápido na corrida, vigoroso no combate. Ele aprendeu a sobrepujar os obstáculos da natureza, a combater por necessidade os animais, a disputar a subsistência com o próprio semelhante ou se compensar quando era forçado a ceder ao poder do mais forte.
O homem percebeu que andando em bandos havia mais segurança, tanto para proteger-se dos animais ferozes, como também, de outras tribos.
A forma de comunicação – essencial na convivência – operava-se pela gesticulação, expressões faciais e sons, conduzidos profundamente pelos instintos.
Dois acontecimentos iriam, no entanto, revolucionar as relações humanas ainda incipientes: a descoberta e manutenção do fogo e o desenvolvimento da agricultura. Certamente, a capacidade de produzir e manter o fogo, proporcionou a criatura humana, naquele momento, uma aproximação maior em volta da fogueira, quer para se proteger do frio, dos animais ou mesmo cozinhar alimentos. Com essa aproximação, o uso da comunicação oral se aprimorou, tornando-se mais articulada e mais rica de significados.
A descoberta da agricultura, por sua vez, permitiu o surgimento da vida sedentária e o estreitamento das relações familiares e tribais. À medida em que se desenvolveram as idéias, o espírito humano passou a criar relações e laços de convivência mais estáveis. Começaram a surgir culturas peculiares a cada agrupamento humano. Alguns grupos criaram o hábito de reunião em frente das cabanas ou em torno de grandes árvores; os rituais religiosos multiplicaram-se e as próprias relações humanas passavam a ficar cada vez mais complexas, originando as estruturas diversas da civilização.
O homem é um ser gregário, criado para viver em sociedade. Conviver significa vencer o isolamento existencial numa proposta interativa com o outro. Nesse sentido, a vida social é valiosa conquista do processo de aprimoramento da criatura humana, na sucessão dos tempos.
A socialização do homem o capacita, através de múltiplas situações , ao desenvolvimento de potenciais que jazem no seu íntimo, tornando-o, pelas sucessivas reencarnações, capaz de autodescobrir-se e desvelar o mundo que o cerca.
Na natureza temos variados exemplos sobre o princípio da agregação: as gotículas de água que se associam para originarem os lagos, mares e oceanos; as partículas mais ínfimas que se atraem para fazer surgir a realidade material; as células que, ao se agruparem, formam os tecidos, os órgãos, os membros, enfim, o nosso próprio corpo físico; nos animais, por sua vez, o instinto gregário os conduz à vida em grupos para a manutenção da própria espécie...
Os seres humanos, além de possuírem as necessidades primárias da própria subsistência, necessitam atender, também, aos imperativos da convivência, visando um processo de complementaridade.
Concordamos com o escritor Silvino José Fritzen quando afirma que: “as convivências são formativas: ajudam a reflexão e a interiorização pessoal, e representam uma rejeição viva à sociedade egoísta”. A vida social desenvolve os sentimentos e o intelecto humano, predispondo-nos ao trabalho de intercambiar experiências com vistas ao melhoramento do grupo onde nos encontramos. Assim, ampliam-se os horizontes da educação, da arte, da cultura, da ciência, da religião, da tecnologia, etc.
O processo de autoconstrução espiritual é algo socializado, significa dizer que ninguém é verdadeiramente feliz enclausurado em si mesmo. A nossa evolução, também depende dos outros, pois a convivência permite as situações-testes das nossas aquisições íntimas no campo do saber e dos sentimentos.
Aprender a lidar com os sentimentos e emoções, com a racionalidade e as sensações é, sem dúvida, qualificar a dinâmica da nossa convivência. Acreditamos que o Espiritismo vem ofertar valiosa contribuição para o entendimento real do homem: espírito imortal e pluriexistencial, que no corpo ou fora dele, vive e convive num ímpeto crescente em busca de sua plenitude espiritual.
FONTE
Filosofia da Convivência - Jerri Almeida
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excelente conteúdo!
ResponderExcluirBom texto, obrigado!
ResponderExcluirBom texto
ResponderExcluirÓtimo texto!
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