Embora se preocupe diretamente com o melhoramento ético e moral do homem, o pensamento espírita não se exime de analisar a dimensão política da vida em sociedade. Allan Kardec, quando tratou dos fins e formação das Sociedades espíritas, no Capítulo 30 Art. 1º. de O Livro dos Médiuns, advertiu que as “questões políticas” deveriam delas se manter afastadas. A preocupação de Kardec era certamente pertinente, considerando-se que as Instituições espíritas jamais devem assumir posicionamento político-ideológico ou político-partidário. Nesse sentido, podemos considerar que não há uma aproximação direta entre Espiritismo e política.
Léon Denis foi enfático ao considerar: “A influência do Espiritismo no progresso da sociedade se processa, não no estímulo à luta de classe, mas no campo íntimo, ampliando os horizontes sobre a natureza humana e sua destinação.” As relações com o poder temporal fizeram, historicamente, muitas instituições religiosas respeitáveis tombarem ante seus fins mais profundos.
Mas o ser humano, diante das contingências evolutivas da Terra, é, na definição de Aristóteles, um “animal político”. No plano da individualidade, o espírita é alguém que está inserido na sociedade e que, portanto, como todo cidadão, possui responsabilidades com sua formação política, mesmo que não necessariamente partidária. Platão já dizia que, mesmo que o indivíduo não goste da política, será governado por políticos. Não devemos como cidadãos e, espíritas em particular, assumirmos uma postura de simples “indiferença” ao universo político que nos envolve.
Há uma problemática histórica no Brasil, onde o povo foi afastado das decisões, posto como um mero expectador das relações de poder. A sociedade brasileira viveu uma experiência democrática muito reduzida. Isso distanciou o indivíduo de seu protagonismo social, alienando-o das decisões políticas. No final dos anos 80, retomamos uma via democrática fundamental para o exercício das eleições e das escolhas que instituem uma sociedade mais horizontalizada.
A democracia, no dizer do saudoso professor Deolindo Amorim, é o regime que melhor corresponde à índole da Doutrina Espírita, pois a estrutura filosófica do Espiritismo não se adapta a nenhuma forma de poder totalitário. Afirmando, ainda, que: “A democracia é regime de conciliação, de equilíbrio, porque repele instintivamente qualquer hegemonia e permite a participação de todos no progresso comum, sem distinção de classes.”
Fazer escolhas e opções faz parte determinante de nossa caminhada evolutiva. É nesse sentido que enquadra-se o pensamento aristotélico do “ser político”. A noção de “maturidade humana” engloba as responsabilidades inerentes aos papéis sociais. Ser cidadão é um desses papéis.
Obs. Artigo escrito para o Jornal Diálogo Espírita
Referências citadas no texto
DENIS. Léon. Socialismo e Espiritismo. 2ª ed. Matão-SP: Casa Editora O Clarim, 1987.
AMORIM, Deolindo. Análises Espíritas. FEB. Cap. 19. Pág. 107.
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Muitos espíritas ao lerem tais afirmações de Kardec deduzem daí que a atitude mais condizente em relação à política é a indiferença. Essa atitude, embora sincera, me parece, não é e não pode ser legitimamente espírita.
ResponderExcluirLeon Dennis tem razão ao dizer que o espiritismo não estimula a luta de classes, no sentido de predomínio de uma sobre outras, pois isto seria unicamente uma luta pelo poder.
Participo do entendimento de Ney Lobo quando otimistamente diz que a luta de classe pregada por Marx, com o espiritismo se transforma numa luta das classes moral e intelectualmente evoluídas em favor daquelas ainda em estagio de inconsciência; quer dizer, passaria de uma luta pelo poder para uma luta pedagógica.
Na lei de sociedade vemos a confirmação do pensamento de Aristóteles. Essa lei nos mostra também que Deus faz conviver num mesmo ambiente, a Terra, espíritos em diversos estágios evolutivos para que possamos aprender e ensinar uns aos outros; e determina como fator de evolução a ajuda mútua, a cooperação, o compartilhar. A política é um dos meios possíveis para esse objetivo. Se na atualidade não é isso que acontece, cabe-nos o indeclinável dever ser contribuir para redirecioná-la para o Bem e não fugir da responsabilidade. Aliás, o movimento monástico começou com pessoas que queriam fugir do mundo e encontrar Deus no isolamento das montanhas, das cavernas, das matas, longe das cidades onde, segundo eles, imperava o mal. Mas Jesus não havia dito justamente que deveríamos estar como ovelhas entre lobos?
ResponderExcluirO democracia é da essência do espiritismo.
ResponderExcluirAntes quero dizer que me refiro à democracia substantiva e não a democracia formal.
A substantiva é aquela que se vive no cotidiano, nas nossas relações afetivas, familiares, profissionais, educativas...
A formal é aquela que se realiza periodicamente na escolha dos nossos representantes que irão efetuar as escolhas fundamentais que poderão levar nossas vidas para rumos positivos ou negativos. Esse processo democrático pode ser vivido apenas como mais um ritual, sem nenhum sentido mais profundo em nosso ser.
Com efeito, um povo pode ser profundamente autocrático em seu cotidiano e, no entanto, realizar normalmente esse processo periódico de escolha de representantes. Mas, é claro, a democracia formal não se reduz a isso.
O fundamento da democracia substantiva é o reconhecimento do outro, ou seja, do direito do outro pensar, fazer e ser do jeito que quiser, respeitados os limites da liberdade alheia. É reconhecer que o outro tem todos os direitos que atribuo a mim.
ResponderExcluirOutro fundamento, derivado do anterior, é o diálogo como procedimento de resolução de conflitos, em lugar da imposição pela violência.
Quando afirmo que o espiritismo é essencialmente democrático me refiro à democracia substantiva.
ResponderExcluirSe observarmos com atenção veremos que Kardec dialogou profundamente com os espíritos, mas não somente com os superiores; conversou, buscou informações, e estabeleceu produtivos diálogos com espíritos sofredores e ignorantes. De todos eles aprendeu algo que colocou na constituição da Doutrina. “O Céu e o Inferno” é o melhor exemplo desta minha afirmação!
Mas a principal relação da Doutrina com a democracia vem da ética espírita que nos ensina a perceber que somos espíritos ainda imperfeitos e cabe-nos o dever de entender e aceitar tal situação, lutando constantemente para mudá-la, em nós e nos outros.
O espiritismo não aceita qualquer sistema autoritário, ou ainda, seu aprofundamento, o totalitarismo. Neste há uma tentativa de inserir-se no subjetivo, na vida privada das pessoas, buscando determinar o que elas devem pensar, gostar, enfim, o que elas devem ser. O espiritismo, ao contrário, é baseado na liberdade individual.
Consequentemente, o espiritismo nos conduz á política como um importante atividade humana da qual não podemos nos esquivar sob o pretexto de um puritanismo démodé, ou evangelismo improdutivo, que nada mais será do que fuga da responsabilidade com a produção do bem comum.
Para concluir. Quando nos tornamos democraticos em nossas vidas e modo de ser contribuimos para a implantação de um consistente sistema democrático, independentemente dos diversos modos de manifestação dessa democracia no plano social e político-partidário, se uma democracia apenas representativa ou uma democracia participativa, embora possamos jamais nos envolver nas lutas partidárias ou nas insanas lutas pelo poder.
ResponderExcluirO espírita verdadeiro, no meu modo de entender, é sempre um ser político, embora nem sempre saiba disso. Mas será um espírita melhor e mais consciente quando souber ser também um protagonista da evolução social.
O livre arbitrio nos permite a ação.O sujeito não está ausente da ação,é ele mesmo sempre.Se há uma filosofia política que lhe parece justa socialmente,é que deve nela estar presentes espíritos que se identificam com a causa,e ele não pode se obstar de colaborar com seu crescimento moral e de justiça.Digo-lhes amigos que pelo elevado senso de justiça,Max era espírita sem o saber
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