A natureza dotou a criatura humana, com amplas capacidades e instrumentais necessários ao seu desenvolvimento ao longo de sua longa jornada de evolução antropológica-espiritual. A evolução da estrutura cerebral é exemplo disso. Conforme aponta o cientista Eugênio Mussak, a primeira parte do cérebro, a mais antiga formada a cerca de 350 milhões de anos, é constituída pelo hipotálamo e pelos núcleos de base, é o denominado “cérebro reptiliano”. Ele seria responsável, entre outras coisas, pelo nosso comportamento instintivo, vinculado à necessidade de preservação da vida. Assim, numa situação de perigo real ou imaginário, o indivíduo assume comportamentos instintivos, muitas vezes também agressivos, no intuito de se auto-preservar. Imaginem dois indivíduos numa ilha isolada com imensa restrição de alimentos? Haveria espaço para uma divisão “civilizada” do alimento? Talvez houvesse até o momento limite da sobrevivência para ambos. Nesse momento crítico, as pessoas não conseguiriam mais raciocinar adequadamente, assumindo posturas maquinais, instintivas e agressivas na defesa de sua preservação.
Ocorre que com a evolução morfológica e fisiológica do cérebro, surge outra parte, “mais nova”, (algo em torno de 10 milhões de anos atrás) responsável no ser humano, pelas emoções e sentimentos: o sistema límbico. Há muitas mulheres que vivem sob o domínio das emoções. Deixam-se dominar por seus companheiros e, quando ocorre uma ruptura nesse relacionamento, não conseguem mais fazer nada. Deprimem-se, a vida perde o sentido, não se alimentam adequadamente, afastam-se dos amigos e da família. Quando se apaixonam, independente do caráter ou temperamento do outro, ficam fascinadas. Não desejam perceber o outro como ele realmente é, mas conforme aquela matriz idealizada por elas.
A parte mais nova do cérebro, com apenas 50 mil anos, o neocórtex (também chamado de massa cinzenta), seria o responsável pela função do pensamento. Logo, a parte instintiva é a mais antiga no ser humano, seguida pelas emoções. Pode-se dizer, sem nenhum demérito para ninguém, que possuímos um “animal” dentro de nós.
Mas também, como já mencionamos, existem pessoas que se deixam governar pelas emoções. O sistema límbico está fortemente vinculado ao princípio do prazer e para a fuga do desprazer. Nesse ponto, devemos articular também o princípio da paixão. A paixão é uma emoção forte, arrebatadora que compromete o discernimento. As paixões, portanto, estão muito vinculadas a temas como: sexo, dinheiro, fama, jogo, poder e beleza.
A própria ideia de “justiça” muitas vezes, termina sendo cooptada ou corrompida pela paixão, conforme esclarecem os espíritos para Allan Kardec na questão 874 de O Livro dos Espíritos: “É porque a esse sentimento [de justiça] se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso.” Ou seja, quando a paixão domina no homem, ele acaba elaborando sua própria, e muitas vezes errada, noção de justiça. A capacidade de pensar e raciocinar, como aludimos, é algo muito recente para a espécie humana. O pensamento, do ponto de vista da evolução cerebral, foi a última estrutura que apareceu. Por isso, em termos de nossa evolução planetária, grande parte das pessoas são muito instintivas (com boa dose de agressividade) e também bastante emocionais (com forte apelo das paixões).
A mistura entre “instinto” e “paixão” é um componente extremamente perigoso. Isso abre espaço para relacionamentos precipitados, já com “data de validade” vencida. Pessoas assim terminam criando relacionamentos desastrosos, permeados de emoções em desequilíbrio. O princípio da paixão não é originariamente mal. O problema, alerta a questão 907, de O Livro dos Espíritos, reside no “excesso” ou o “abuso” que delas fazem os homens. Ocorre que quando o indivíduo deixa-se dominar pelos instintos e pelas paixões, volta a bestialidade da fera. Nesse sentido, o grande desafio da evolução, é permitir ao pensamento uma ascendência sobre essa estrutura ancestral, empenhando esforços na educação de seus impulsos, emoções e sentimentos. Para isso, no entanto, é necessário que o sujeito já tenha atingido certo nível de maturidade interior que lhe permita essa disposição.
domingo, 15 de agosto de 2010
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