Genericamente, paradigmas são referenciais pelos quais vemos, nos relacionamos e transformamos o mundo e a nós mesmos.
Na Baixa Idade Média (Séc. XI ao XV), dois paradigmas se destacavam: o geocentrismo, defendido pela ortodoxia religiosa vigente, afirmava que a Terra estava imóvel no centro do Universo e o Sol girava entorno dela. Já o heliocentrismo, era defendido pelo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), onde o Sol estava no centro do sistema planetário e era a Terra que girava em torno dele. Mais tarde, Galileu Galilei (1564-1642) comprova o acerto de Copérnico e passa a ser perseguido pela Igreja Católica, quase sendo morto nas fogueiras da “Santa” Inquisição.
No período em que vigorou o paradigma da escravidão negra no Brasil (Séc. XVI-XIX) alguns senhores costumavam afirmar que o escravo de canela fina era trabalhador e o de canela grossa era preguiçoso. Temos aí duas formas ou referenciais totalmente equivocados, ética e moralmente falando, de ver a vida. Paradigmas superados com a natural maturação consciencial da civilização.
Na medida em que o Ser humano aperfeiçoa a sua consciência à respeito da vida, novos referenciais emergem, sucedendo as antigas culturas, arcaicas e impotentes, portanto, declinantes.
No que diz respeito a compreensão sobre a vida e a morte, o princípio dialético de renovação cultural é o mesmo. A morte é uma fatalidade biológica, mas a continuidade da vida é um determinismo divino. Verdadeiramente, podemos afirmar que o Espiritismo substituiu com propriedade, o substantivo abstrato e difuso “morte”, pelo substantivo concreto “desencarnação”. Naturalmente, o termo desencarnar expressa com mais fidelidade o mecanismo pelo qual ocorre a desenmantação do espírito em relação ao corpo físico.
Vivemos em um cultura ocidental que educa o indivíduo para a vida exterior, baseada num paradigma newtoniano do século XVII, o que equivale dizer, num referencial de vida mecanicista onde o ser humano foi reduzido a uma estrutura físico-química fadada a desaparecer com a morte.
Segundo o físico Fritjof Capra, em seu livro “O Ponto de Mutação”, a humanidade, no momento atual, vivencia um processo de transformação cultura, ou seja, uma mudança de paradigmas, não obstante, a predominância de uma cultura materialista que está visivelmente declinante por recusar-se a mudar, aferrando-se cada vez mais obstinada e rigidamente a suas ideias obsoletas; mas o seu declínio continuará inevitável, ao mesmo tempo em que a cultura nascente consubstanciada em uma visão espiritualista continuará ascendendo e assumirá finalmente o seu papel de liderança.
No entanto, lembremos que mudanças evolutivas e educacionais dessa magnitude, não ocorrem a curto prazo e de forma simplista. Nesse contexto, o Espiritismo é ontológico, oferecendo uma cosmovisão da vida, situando o homem na condição de espírito imortal e pluriexistencial. Tem influído profundamente no progresso e na ascendência de uma nova cultura voltada para o autodescobrimento do homem integral.
A Doutrina Espírita vem trabalhando o intelecto e as emoções humanas, a fim de que se possa admitir a morte como parceira da vida, retomando às reflexões oriundas dos ensinamentos de Jesus Cristo. O Espiritismo é, sem dúvida, a síntese dessa cultura emergente, pois sintetiza em sua ampla e dinâmica conceituação todas as conquistas reais da tradição religiosa, filosófica e cientifica, acrescentando novos conhecimentos sobre a natureza humana e seu processo evolutivo.
Depreende-se, finalmente, que o paradigma espírita enseje uma psicologia educacional para a morte nos moldes da pertinente e lúcida afirmação do prof. Herculano Pires: “A educação para a morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do céu. É um processo educacional que tende a ajustar os educandos à realidade da vida, que não consiste apenas no viver, mas também no existir e no transcender”.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
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