domingo, 25 de outubro de 2009

PÓS-MODERNIDADE


O Pós-Segunda Guerra Mundial gerou não somente uma mudança na geopolítica internacional com o advento da Guerra-Fria, mas, igualmente, ensejou uma nova dinâmica no âmbito das relações humanas, estruturada sob a égide de uma sociedade tecnológica. Essa sociedade do pós-guerra, que propôs rupturas com a idéia de totalidade ou universalidade de valores – no mundo Ocidental – é, genericamente, denominada pós-moderna ou pós-industrial. Enquanto a Modernidade foi representada pela sociedade industrial que valorizava a disciplina, o controle, a estabilidade... a pós-modernidade caracteriza-se, justamente, pelo princípio da incerteza, insegurança e da relatividade.
Na modernidade, a vida individual e coletiva era pensada a partir da idéia de um tempo linear, isto é, o passado servia de experiência para ordenar o presente e, tudo aquilo que não se lograva conquistar no presente, projetava-se em aspirações e expectativas para o futuro, ou seja, construía-se um projeto, uma meta e buscava-se persegui-la.
Em oposição a este quadro, a pós-modernidade caracteriza-se, entre outras coisas, pela ruptura com esse tempo linear: passado, presente e futuro. Fixando-se essencialmente no presente através do desejo de viver intensamente o momento. A procura pelo prazer imediato, a valorização extrema da imagem sobre a realidade, a cultura do consumo, o individualismo e a competição, ao invés de gerarem felicidade, tem construído painéis de solidão, medo e vazio existencial.
Transitamos de uma sociedade repressiva, em todos os níveis (governos ditatoriais, família patriarcal, escola autoritária, fábricas opressoras...daí o rompimento com a idéia de “totalitarismo”, também vinculado à noção dos valores) e, no ímpeto por liberdade, adentramos num modelo de sociedade diametralmente oposta, onde tudo passou a ser permitido. Confundiu-se liberdade com libertinagem e acabamos no dilema shakespeareano do “ser ou não ser”.
Na arte, principalmente no cinema, temos a expressividade desses novos paradigmas. O Exterminador do Futuro e O Caçador de Andróides, entre tantos outros, passam-se num mundo técnico com novas regras de trabalho e ambiente biotecnológicos. Temos, portanto, o retrato da percepção caótica do espaço-tempo ou a arte do fantástico e do hiper-real.
Continuadamente exposto a novas tentações, num estado de constante excitação, o ser humano da sociedade pós-globalizada, vive sua constante insatisfação. Vivem-se ávidos por novas atrações e sensações e, logo que estas são satisfeitas, outras necessidades surgem sedutoras, convidando os indivíduos a um novo consumo.
Apesar dos avançou da biotecnologia e da tecnociência, vivemos confinados ou encarcerados em burgos modernos, diante da necessidade de segurança, posto que a violência atinge, em escala planetária, níveis alarmantes. O consumidor é consumido pela cultura que induz ao individualismo e menospreza o valor da condição humana. Nada, estranho, portanto, que a depressão, a insônia e outras patologias ocupem lugar de destaque no cotidiano de tantas criaturas.
Recentemente, um grupo de pensadores, do Brasil e de outros países, reuniu-se num evento intitulado: “Mutações: A condição humana” . Psicanalistas, filósofos, críticos de arte, sociólogos, analisaram as novas configurações do mundo atual. Algumas conclusões podem ser destacadas: o homem contemporâneo vem perdendo sua imagem, ou seja, nossa civilização vive uma espécie de crise de identidade, mergulhada num vazio, onde concepções políticas, crenças, ideias, referenciais, que antes pareciam dar sentido a existência, perdem o seu valor
Os mais pessimistas poderão pensar numa “quase-morte do sujeito”, onde a noção de verdade, de esperança, as ideologias, estariam solapadas pela ruptura com um tempo linear, uma vez que se vive no Time is money ou Moneyteísmo. Tudo é veloz e volátil e a noção de tempo se fixa, exageradamente, no presente. A grande tragédia do homem pós-moderno, é a de ter perdido o endereço de si mesmo.

(Continua na próxima semana...)

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