quarta-feira, 24 de junho de 2009
FELICIDADE
No amplo universo das divindades que permearam a cultura religiosa no Mundo Romano, situava-se uma deusa, representada na figura de uma mulher corpulenta conduzindo em suas mãos, simbolicamente, a saúde e a prosperidade. Essa divindade era cultuada pelos antigos romanos pelo nome de felicidade. Nas escolas filosóficas da Grécia Antiga, o hedonismo entendia que a felicidade estava na posse dos bens externos e no prazer vinculado às conquistas materiais. Epicuro (341-270 a.C.) buscou explicações para a norma do bem-viver nas satisfações da “carne e do ventre”.
A escola de Diógenes (413-323 a.C.), o cínico, ensinava, por sua vez, que a felicidade situava-se na renúncia aos bens externos, pois, quanto menos o homem desejasse possuir, mais pleno ele seria. Para ele, a felicidade poderia ser obtida da forma mais “econômica” e simples possível. A escola filosófica estoicista, a seu turno, considerava, entre outras coisas, que a felicidade estaria associada a uma postura de serenidade diante das adversidades ou do sofrimento.
Tema central na filosofia de Aristóteles, a felicidade foi, também, um tema recorrente no cenário literário e político no século XVIII. Soren Kierkegaard inaugura a idéia de modernidade através da análise das angústias existenciais, enquanto Schopenhauer atribui à felicidade um caráter de negatividade.
A felicidade tem sido um tema fundamental em toda a história do pensamento humano. É objeto de estudo, entre outros, da filosofia, da psicologia, das religiões e da medicina. Conforme salientou Robert Misrahi: “A felicidade é o valor privilegiado porque, na realidade, ela é o objeto e a significação de todos os outros valores, quando estes são afirmativos da existência.”
Vivemos num mundo em constante crise de seus paradigmas afirmativos, onde a violência atinge níveis elevados, gerando uma intranqüilidade crescente; onde os dramas humanos se multiplicam na convivência familiar; onde a aceleração da vida atual colabora para produzir os quadros de ansiedade, insatisfação e estresse.
O advento da tecnologia ensejou, ao ser humano, a possibilidade de mais conforto, mas não, necessariamente, de felicidade. A falta de um sentido mais profundo para o fenômeno da vida tem contribuído para alargar os horizontes do vazio existencial, gerador de angústias e medos. Rodeado de crises e conflitos existencias, o ser humano atinge o século XXI. A busca pela felicidade é intrínseca na espécie humana. Alguém, na posse de sua saúde mental, já afirmou que deseja ser ardentemente infeliz? Evidentemente que não!
No alvorecer do Terceiro Milênio, muito embora as adversidades, não desistimos da felicidade. Para alguns estudiosos do comportamento humano, isso se deve a fatores fisiológicos como a produção, pelo organismo, de certas substâncias, a exemplo da dopamina, o neuropeptídeo que seria, entre outros, o responsável pela felicidade.
Analisando o tema sobre vários aspectos, sem termos, no entanto, a pretensão de nos fixar nos exaustivos debates teóricos, trouxemos para o centro desse estudo a valiosa contribuição do conhecimento espírita. Não se trata de impormos verdades ou apontarmos caminhos simplistas para a conquista da felicidade. Nosso propósito é percebermos a questão da felicidade numa análise mais profunda da vida.
O espiritismo, com todo o seu arcabouço de conhecimento filosófico, científico e religioso, possui todas as condições para nos conduzir, de forma segura, à percepção que a felicidade faz parte das conquistas evolutivas do espírito humano. Portanto, ela não é obra da sorte ou do acaso, mas do trabalho, pois toda conquista exige esforço, dedicação e perseverança, de modo que surjam os resultados almejados.
Do livro: O Desafio da Felicidade. Editora Francisco Spinelli, 2007.
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