domingo, 3 de maio de 2009
Uma amostragem da tese espírita: dois casos que sugerem reencarnação (Parte I)
Introdução
A pesquisa científica sobre reencarnação oferece contribuições valiosas para ampliar horizontes de conhecimento sobre o sentido da vida. Não se trata, obviamente, de trilharmos somente o caminho da fé ou da crença, pois estamos diante de uma questão mais complexa, que envolve de forma totalizante o saber humano. Infelizmente, na atualidade, nem sempre as pesquisas nessa área ocorrem com o ritmo e os critérios que as possam alavancar em termos de reconhecimento científico, mesmo porque o mundo acadêmico, em boa parte, ainda se ressente dos preconceitos com tal tipo de temática.
Seja como for, dois eminentes pesquisadores, entre outros, ofereceram inestimável esforço com suas pesquisas autorizadas, sérias e de alto valor para a humanidade. Nos referimos a Ian Stevenson e Hernani Guimarães Andrade, ambos já desencarnados.
O Dr. Ian Stevenson foi diretor do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da Escola de Medicina da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos. Estudou uma enormidade de fatos sobre reencarnação em vários países, inclusive o Brasil. Dos seiscentos casos estudados por esse eminente cientista, muitos foram divulgados através de publicações nos EUA. Uma ótima amostragem de suas investigações foi o livro, também lançado no Brasil: Vinte casos sugestivos de Reencarnação.
Em nosso país, o Dr. Hernani Guimarães Andrade, engenheiro e fundador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, de São Paulo, coletou e investigou inúmeros fatos que sugerem reencarnação. Os episódios estudados pelo Dr. Hernani, estão respaldados em farta documentação e na seriedade dos critérios adotados em sua linha de investigação. No final dos anos 80, veio a notável publicação de uma obra que seria uma espécie de marco fundamental para o estudo das vidas sucessivas e, igualmente, da imortalidade: Reencarnação no Brasil. Reunindo oito casos que sugerem reencarnação, o Dr. Hernani, em linguagem simples, sem ser simplista, apresentou também uma amostragem de suas pesquisas.
Na tentativa de relembrar essas duas pesquisas que contribuem com as perquirições de Allan Kardec, em sua memorável incursão no horizonte do espírito, selecionamos no breve espaço desse artigo, dois casos muito interessantes e de grande valor para o fortalecimento da fé racional, na Justiça Divina.
O caso Marta Lorenz
(Estudado por Ian Stevenson)
Maria Januária de Oliveira nasceu em 1890, próxima a antiga vila de Dom Feliciano, no Rio Grande do Sul. Era filha de um próspero fazendeiro. Sinhá, conforme era chamada em família, cresceu no campo, mas visitava, com frequência, o vilarejo onde também estudava. Ainda jovem, apaixonou-se por um rapaz. Não recebeu a concordância do pai, que lhe programou uma viagem para Pelotas, com o objetivo de dissuadi-la do intento amoroso, Sinhá terminou posteriormente contraindo uma grave enfermidade nos pulmões e laringe, vindo a desencarnar por tuberculose.
Sinhá possuía vínculos de amizade com Ida Lorenz, esposa de F. V. Lorenz, eminente professor daquele distrito. Quando estava no leito já em fase terminal, Sinhá faz curiosa previsão a sua amiga Ida Lorenz. Após sua morte, renasceria novamente na Terra, agora como filha de Ida. Afirmando ainda que: “Quando eu renascer e estiver em idade de poder falar no mistério do renascimento do corpo de uma meninazinha, que será sua filha, contarei muitas coisas sobre minha presente vida e assim você ficará sabendo a verdade.”
Sinhá faleceu em outubro de 1917. Dez meses após, no dia 14 de agosto de 1918, Ida Lorenz deu à luz uma filha, Marta. Quando Marta tinha dois anos e meio, relatou para Lola, sua irmã mais velha, fatos da vida de Sinhá. A narrativa foi colhida do Sr. F. V. Lorenz. Conta que certo dia Marta pediu para Lola carregá-la nas costas. Informa Lorenz: “A irmã que como todos os nossos filhos e vizinhos, nada sabia a respeito da promessa da môça falecida, respondeu: Você sabe andar muito bem. Não preciso carregar você.’ Ao que Marta respondeu: ‘Quando eu era grande e você pequena, eu costumava muitas vezes carregar você. Quando você era grande? Perguntou Lola, rindo. Então a pequenina respondeu: Naquele tempo eu não morava aqui; morava longe, num lugar onde havia muitas vacas, bois e laranjas...” Marta afirmava ainda que: “Naquele tempo eu tinha outros pais.”
Marta começou, então, a descrever sua vida anterior, como Sinhá, com riqueza de detalhes. Em 1962, o Dr. Stevenson esteve no Rio Grande do Sul colhendo dados com Waldomiro Lorenz, o irmão mais velho de Marta. Ao que parece, Marta falava muito na casa de Sinhá e muitas vezes pediu para ir lá. Em suas investigações, o Dr. Ian Stevenson apurou que entre os sete e doze anos de idade, Marta foi reduzindo sua fala sobre a existência anterior. Ela casou e teve filhos. Em 1962, por ocasião da visita de Stevenson, Marta estava morando em Porto Alegre. O cientista teve a oportunidade de conversar com ela algumas horas. Ela afirmava ainda possuir a lembrança muito nítida de certos acontecimentos vividos por Sinhá.
Sinhá desencarnou de uma infecção pulmonar que havia, também, lhe afetado a garganta. Marta desde o nascimento, era suscetível a infecções no aparelho respiratório, durante as quais sua voz ficava rouca. Até a idade de 9 anos, Marta sofreu de rouquidão e dor na garganta. Sinhá gostava muito de gatos. Marta também. Sinhá tinha medo de chuva. Marta também. Tanto Sinhá, como Marta tinham verdadeira fobia ao ver sangue.
Ian Stevenson teve a possibilidade de entrevistar vários parentes de Marta, ainda encarnados a época. Esteve nas cidades de Taquara, onde conversou com Ema Estelita Bieszczad, irmã de Marta e em Dom Feliciano, onde entrevistou Luiza Carolina Moreira (Lola), irmã mais velha de Marta, e Dona Moça Antonietta de Oliveira Costa, irmã viva de Sinhá. Stevenson anotou que: “A convicção de Marta, sobre a continuidade de sua própria vida após a morte levava-a, quando ainda bem pequenina, a confortar adultos que haviam perdido alguém.” Oportunamente, uma senhora lamentava a perda de um parente, considerando a morte como o fim de tudo. Estando Marta por perto, eis que ela intervém: “Não diga isto! Eu também morri e, veja, estou vivendo de novo.”
Esse caso requereu uma série de investigações, principalmente na checagem de depoimentos de familiares, vizinhos e demais observadores, que conheceram a rotina das duas famílias, a dos Lorenz, pais de Marta, e dos Oliveiros, pais de Sinhá. O método de Stevenson consistiu numa detalhada tabulação dos eventos e informações colhidas, buscando, por eliminação, explicações para o caso. O certo é que Marta possuía, não somente muitas informações sobre a vida e o meio em que Sinhá viveu, mas também, uma forte identificação com a personalidade dela. Muitas das informações sobre Sinhá poderiam ter sido passadas por outras pessoas para Marta. O estudo desse caso e as entrevistas colhidas levaram Ian Stevenson a considerar que essa não seria uma explicação conclusiva nem tão pouco totalizante para explicar o fato.
A predição de Sinhá, no leito da morte, ficou, mesmo depois do nascimento de Marta, muito tempo guardada pela senhora Ida Lorenz que, somente com as primeiras reações de Marta, divulgou-a para seu esposo F. V. Lorenz. A atitude deste, também foi de discrição, pois não comunicaram, durante anos, nem mesmo para os demais filhos. No capitulo final de seu livro, Stevenson discute, de forma geral, as hipóteses normais para explicar os casos por ele estudado: Fraude? Criptomnésia? Memória genética? Percepção extra-sensorial? Projeção de imagens?
Em suas “observações conclusivas”, o eminente pesquisador, avaliando as possíveis evidências de uma personalidade presente ter herdado elementos de uma “personalidade já falecida”, afirma:
“Em tais casos, temos então, em princípio, creio eu, alguma evidência de sobrevivência humana após a morte física. Digo em princípio porque continuo ciente de determinadas debilidades nos presentes casos. Mas se o princípio aqui adotado for correto, somos levados de volta à questão da autenticidade para um julgamento final da contribuição que esses casos suscitam quanto à convicção a respeito da sobrevivência.”
Veja bibliografia completa na próxima postagem.
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